quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Músicas Censuradas no Período do AI-5


“Torturando este ser que te adora..." 

“Tortura de Amor”foi lançada pelo próprio autor, Waldik Soriano por volta de 1962, mas não alcançou o sucesso esperado, aos poucos foi sendo incorporada ao repertório de outros cantores – Cauby Peixoto, Altemar Dutra, Nelson Gonçalves, Agnaldo Timóteo, Maria Creuza, Fagner Fafá de Belém e uma promessa de Roberto Carlos: “Certa vez eu encontrei Roberto Carlos no aeroporto e ele disse: ‘Waldik tem uma música sua que um dia eu vou gravar’. É aquela que diz assim ‘apareceste afinal/ torturando este ser que te adora...’ “Tortura de Amor” enfrentou problemas com a censura após a regravação do próprio autor em 1974. Proibida a execução em rádio, em locais públicos, enfim, em todo o Brasil. O cantor dizia que a censura daquela época era burra e radical , Tortura é uma palavra poética: ‘não me tortura tanto, meu amor...vivo torturado por ti...’.

O educador Paulo Freire dizia que as palavras eram grávidas de sentido, em períodos ditatoriais. Recordemos então, que foi em 1974, ano em que a censura alcançou o cume sobre a música e Chico Buarque precisou utilizar-se do pseudônimo de Julinho da Adelaide para driblar a censura. Ninguém sabia que o Julinho da Adelaide era Chico Buarque de Holanda, ‘será que ele da favela da rocinha, será que é de São Paulo, será que é de Aquidabã em Sergipe’, diziam alguns . A verdade é que Chico Buarque teve diversas músicas liberadas com o pseudônimo enquanto que Waldik tinha uma das mais românticas composições vetadas o bolero “Tortura de Amor”: ‘Hoje que a noite está calma/ e que minha alma esperava por ti/ apareceste afinal/ torturando este ser que te adora...’

No período do AI-5 Waldik Soriano não sofreu apenas com a censura de suas músicas não, em 1973 ele prestou entrevista ao jornal Zero Hora de Porto Alegre defendendo a existência do Esquadrão da Morte, e defendeu uma concepção de Jesus Cristo muito diferente daquela defendida pela igreja, “Cristo era um arruaceiro e enganador”, tudo isso foi o estopim para deputados ‘puritanos’ criticarem o cantor. O primeiro foi o deputado arenista, o gaúcho Pedro Américo, que qualificou Waldik de ‘cantorzinho zurrapa’ (nome que se dá a vinho estragado).

O deputado Carlos Gastal, líder do MDB na câmara, lamentou que as declarações de Waldik Soriano tivessem sido publicadas na imprensa. Outro deputado, também MDB Moisés Velásquez, demonstrou maior contundência ao afirmar que “elementos como esse devem ser banidos de nossa vida artística”.

Os deputados emedebistas pareciam esquecer que um dos principais itens do programa do partido naquele momento era exatamente a defesa da liberdade de opinião e de imprensa.

Exagerou John Lennon dos Beatle quando disse que eles eram mais populares que jesus Cristo e exagerou Waldik Soriano quando disse que Jesus Cristo era arruaceiro e enganador. E assim como o ex-Beatle, Waldik para acalmar os ânimos, também distribuiu nota à imprensa dizendo que havia sido mal interpretado e que suas palavras foram deturpadas por deputados gaúchos que usavam da demagogia para promoção eleitoreira.

“Hoje que a noite está calma” - aproveito para ir dormir são quase 2h da manhã.

Ludwig Oliveira – radialista e professor.

E-mail: lueventos50@gmail.com
Publicado no Jornal da Cidade
Maio/2008.

Foto e texto reproduzidos do Facebook/Ludwig Oliveira.

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