“Torturando este ser que te adora..."
“Tortura de Amor”foi lançada pelo próprio autor, Waldik
Soriano por volta de 1962, mas não alcançou o sucesso esperado, aos poucos foi
sendo incorporada ao repertório de outros cantores – Cauby Peixoto, Altemar
Dutra, Nelson Gonçalves, Agnaldo Timóteo, Maria Creuza, Fagner Fafá de Belém e
uma promessa de Roberto Carlos: “Certa vez eu encontrei Roberto Carlos no
aeroporto e ele disse: ‘Waldik tem uma música sua que um dia eu vou gravar’. É
aquela que diz assim ‘apareceste afinal/ torturando este ser que te adora...’
“Tortura de Amor” enfrentou problemas com a censura após a regravação do
próprio autor em 1974. Proibida a execução em rádio, em locais públicos, enfim,
em todo o Brasil. O cantor dizia que a censura daquela época era burra e
radical , Tortura é uma palavra poética: ‘não me tortura tanto, meu amor...vivo
torturado por ti...’.
O educador Paulo Freire dizia que as palavras eram grávidas
de sentido, em períodos ditatoriais. Recordemos então, que foi em 1974, ano em
que a censura alcançou o cume sobre a música e Chico Buarque precisou
utilizar-se do pseudônimo de Julinho da Adelaide para driblar a censura.
Ninguém sabia que o Julinho da Adelaide era Chico Buarque de Holanda, ‘será que
ele da favela da rocinha, será que é de São Paulo, será que é de Aquidabã em
Sergipe’, diziam alguns . A verdade é que Chico Buarque teve diversas músicas
liberadas com o pseudônimo enquanto que Waldik tinha uma das mais românticas
composições vetadas o bolero “Tortura de Amor”: ‘Hoje que a noite está calma/ e
que minha alma esperava por ti/ apareceste afinal/ torturando este ser que te
adora...’
No período do AI-5 Waldik Soriano não sofreu apenas com a
censura de suas músicas não, em 1973 ele prestou entrevista ao jornal Zero Hora
de Porto Alegre defendendo a existência do Esquadrão da Morte, e defendeu uma
concepção de Jesus Cristo muito diferente daquela defendida pela igreja,
“Cristo era um arruaceiro e enganador”, tudo isso foi o estopim para deputados
‘puritanos’ criticarem o cantor. O primeiro foi o deputado arenista, o gaúcho
Pedro Américo, que qualificou Waldik de ‘cantorzinho zurrapa’ (nome que se dá a
vinho estragado).
O deputado Carlos Gastal, líder do MDB na câmara, lamentou
que as declarações de Waldik Soriano tivessem sido publicadas na imprensa.
Outro deputado, também MDB Moisés Velásquez, demonstrou maior contundência ao
afirmar que “elementos como esse devem ser banidos de nossa vida artística”.
Os deputados emedebistas pareciam esquecer que um dos
principais itens do programa do partido naquele momento era exatamente a defesa
da liberdade de opinião e de imprensa.
Exagerou John Lennon dos Beatle quando disse que eles eram
mais populares que jesus Cristo e exagerou Waldik Soriano quando disse que
Jesus Cristo era arruaceiro e enganador. E assim como o ex-Beatle, Waldik para
acalmar os ânimos, também distribuiu nota à imprensa dizendo que havia sido mal
interpretado e que suas palavras foram deturpadas por deputados gaúchos que
usavam da demagogia para promoção eleitoreira.
“Hoje que a noite está calma” - aproveito para ir dormir são
quase 2h da manhã.
Ludwig Oliveira – radialista e professor.
E-mail: lueventos50@gmail.com
Publicado no Jornal da Cidade
Maio/2008.
Foto e texto reproduzidos do Facebook/Ludwig Oliveira.
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