domingo, 17 de dezembro de 2023

Carlos Lyra, cantor e compositor da bossa nova, morre aos 90

Legenda da foto: Carlos Lyra — Foto: Divulgação

Publicação compartilhada do site G1 GLOBO RIO, de 16 de dezembro de 2023  

Carlos Lyra, cantor e compositor da bossa nova, morre aos 90 anos

Melodista foi internado na quinta-feira (14) com um quadro de febre, no Rio. Lyra foi parceiro de Vinicius de Moraes, Ronaldo Bôscoli e outros artistas. Produziu grandes sucessos, como 'Coisa mais linda', 'Minha namorada', 'Primavera', 'Sabe você' e 'Você e eu'. Causa da morte não foi informada.

Por g1 Rio

O cantor e compositor Carlos Lyra, parceiro de Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Ronaldo Bôscoli e outros artistas, morreu na madrugada deste sábado (16), no Rio. A informação foi confirmada pela família.

Autor de sucessos como 'Coisa mais linda', 'Minha namorada', 'Primavera', 'Sabe você' e 'Você e eu', Lyra era um dos melodistas mais inspirados da música brasileira em todos os tempos.

Segundo a mulher dele, Magda Pereira Botafogo, o compositor de 90 anos foi internado com um quadro de febre na quinta-feira (14) no Hospital da Unimed, na Barra da Tijuca. Após alguns exames, foi detectada uma bactéria. A causa da morte ainda é desconhecida.

Revelado em disco na voz de Sylvia Telles (1935 – 1966), cantora que gravou Menino em 1956, Lyra foi um dos compositores do movimento rotulado como bossa nova.

O artista deixa a sua marca na história da música brasileira e um repertório de 196 obras musicais e 355 gravações cadastradas no banco de dados da gestão coletiva no Brasil.

O corpo do músico será velado no domingo (17), das 10h às 14h, no Memorial do Carmo, no Caju. A cerimônia será restrita a familiares e amigos.

Além de músico consagrado, o melodista carioca também desempenhou um papel fundamental na difusão da cultura brasileira. Lyra foi um dos responsáveis por fundar o Centro Popular de Cultura, o CPC, da União Nacional dos Estudantes, em 1961.

Carreira

A primeira composição de Lyra a ser lançada foi "Menino", gravada na voz de Sylvia Telles, em 1956. Em 1959, ele lança seu primeiro álbum, intitulado "Bossa nova". No mesmo ano, João Gilberto grava "Maria ninguém" e "Lobo bobo", da parceria de Lyra com Ronaldo Bôscoli.

A faixa "Coisa mais linda", composição de Lyra e de Vinicius de Moraes, foi lançada em 1961. A dupla também criou "Marcha da quarta-feira de cinzas" (1963), "Minha namorada" (1964), Primavera (1964) e "Sabe você" (1964).

Lyra também demonstrou sua ideologia social e política ao compor a trilha sonora da peça "A mais valia vai acabar, seu Edgar" (1960), do dramaturgo e diretor paulistano Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha.

Anos depois, o cantor renovou seu repertório em álbuns como "Eu & elas" (1972) e "Herói do medo" (1975). Nos anos 1980, ele aderiu a regravações de clássicos da bossa nova e teria novas parcerias com artistas como Joyce Moreno e Paulo César Pinheiro.

Lyra ainda gravou outros trabalhos de músicas inéditas, como "Carioca de algema" (1994) e "Além da bossa" (2019). Em 2023, grandes nomes da MPB homenagearam o artista no álbum coletivo "Afeto".

Texto e imagens reproduzidos do site: g1 globo com/rio-de-janeiro

sexta-feira, 21 de julho de 2023

Morre Tony Bennett, ícone da música romântica americana

Legenda da foto: Tony Bennett recebe o Grammy de Melhor Performance Vocal Pop Tradicional por 'Tony Bennett on Holiday', em 25 de fevereiro de 1998, em Nova York — (Crédito da foto: Matt Campbell/AFP/Arquivo)

Publicação compartilhada do site G1 GLOBO, de 21 de julho de 2023

Tony Bennett, ícone da música romântica americana, morre aos 96 anos

Causa da morte não foi informada, no entanto, o artista foi diagnosticado com Alzheimer em 2016.

Por g1

O cantor Tony Bennett, ícone da música romântica americana, morreu aos 96 anos. A informação foi confirmada por sua representante, Sylvia Weiner, nesta sexta-feira (21). O cantor completaria 97 anos no dia 3 de agosto.

"Realmente é uma das maiores vozes masculinas de todos os tempos", diz Mauro Ferreira sobre Tony Bennett

Bennett é conhecido por suas canções tradicionais da música romântica americana como "I Left My Heart In San Francisco", e ganhou admiradores que vão de Frank Sinatra a Lady Gaga. Ele lançou mais de 70 álbuns e ganhou mais de 19 prêmios Grammy.

Sylvia não especificou a causa da morte, no entanto, ele foi diagnosticado com Alzheimer em 2016. Sua última aparição em uma apresentação ao vivo foi em agosto de 2021, ao lado de Lady Gaga, no Radio City Music Hall, em Nova York, no show "One Last Time".

O artista começou sua carreira no início da década de 1950 e mostrou o talento com a voz forte e cheia de personalidade. Crooner à moda antiga, ele cantou faixas como "Because of You", "Rags to Riches" e "The Good Life". Com "Because of You", Tony ficou por 10 semanas no topo da lista de singles da Billboard.

Entre seus últimos trabalhos estão duetos com nomes clássicos e contemporâneos da música. Em março de 2011, Bennett gravou com Amy Winehouse o single "Body and soul" nos estúdios Abbey Road, em Londres. A parceria entrou no disco "Duets 2". Ele foi o último artista a trabalhar com Amy antes da sua morte prematura aos 27 anos.

Com esse disco de parcerias, Bennett ocupou pela primeira vez na carreira o topo da lista dos mais vendidos da "Billboard". O álbum teve 179 mil cópias vendidas na primeira semana, segundo a publicação.

O cantor também gravou dois discos com Lady Gaga, "Cheek to Cheek", de 2014, e "Love for Sale", em 2021. Com o primeiro, ele quebrou o próprio recorde ao se tornar o artista mais velho a emplacar um disco no topo da Billboard 200.

O álbum apresenta Bennett e Gaga cantando clássicos como "Anything goes" e "Let's face the music and dance", e chegou a vender 131 mil cópias na primeira semana de lançamento. Os dois se apresentaram juntos na cerimônia do Grammy em 2015. Na premiação, eles ainda venceram a categoria de Melhor Álbum Vocal Pop Tradicional.

Em 2021, Gaga falou sobre a parceria com Bennett e o segundo convite que recebeu do cantor: "Sempre fico honrada em cantar com meu amigo Tony, então é claro que aceitei o convite".

Bennett também trabalhou em colaboração com Diana Krall, Michael Bublé, Carrie Underwood, Beyoncé, entre outros artistas. Em 2012, ele lançou "Viva duets", álbum bilíngue com artistas latino-americanos como Gloria Estefan, Thalía e as brasileiras Maria Gadú e Ana Carolina.

O cantor conversou com o g1, em 2012, quando passou pelo país em turnê, aos 86 anos. Na época, ele dizia que não pensava em se aposentar. "Bem, amo ir no Brasil e tive sorte de estar no país quando a bossa nova começou a virar moda. Eu imediatamente reconheci que seria um poderoso gênero musical", disse na época.

Texto e imagem reproduzidos do site: g1globo.com

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Morre João Donato, multi-instrumentista e ícone da MPB

O pianista acreano João Donato — Foto: Cristina Granato

Publicação compartilhada do G1 GLOBO, de 17 de julho de 2023  

João Donato, multi-instrumentista e ícone da MPB, morre no Rio aos 88 anos

A informação foi confirmada pela família do músico. Pianista, acordeonista, arranjador, cantor e compositor nasceu em 1934 em Rio Branco, no Acre.

Por Roberta Pennafort, TV Globo

Morreu na madrugada desta segunda-feira (17), no Rio de Janeiro, o pianista, acordeonista, arranjador, cantor e compositor João Donato. A informação foi confirmada pela família do músico.

Donato estava internado na Casa de Saúde São José, na Zona Sul do Rio, e a causa da morte foi pneumonia.

“Hoje o céu dos compositores amanheceu mais feliz: João Donato foi para lá tocar suas lindas melodias”, anunciaram as redes sociais dele. “Agora, sua alegria e seus acordes permanecem eternos por todo o universo.”

O velório será nesta terça-feira (18) no Theatro Municipal do Rio, em horário a confirmar. O corpo será cremado na sequência no Memorial do Carmo.

O compositor tinha problemas no pulmão e no coração, e vinha com um quadro de sepse havia semanas, tendo sido intubado.

Piano sincopado e fusão de gêneros

João Donato tinha 74 anos de carreira. Sua música, universal, tinha o suingue no DNA. O piano sincopado era único, inconfundível. Eram suas marcas a criatividade, a inquietude e a paixão pela mistura de diferentes gêneros musicais, como jazz, samba, funk e ritmos latinos.

Aos 88 anos, não parava: compunha, fazia shows e gravava discos. Donato não cessou nem durante a pandemia da Covid-19, quando participou do lançamento digital do álbum “Jazz is Dead”, em parceria com músicos de Los Angeles.

Em 2021, lançou, com o parceiro Jards Macalé, o disco "Síntese do lance", com inéditas. A capa estampa a irreverência da dupla: eles posaram sem blusa, como se estivessem pelados, com plantas à frente.

João Donato é tido como um precursor da Bossa Nova pelos próprios bossanovistas. O compositor Marcos Valle conta que Tom Jobim, também pianista e o mestre de todos, dizia que era Donato seu professor.

Ele trabalhou com artistas como Astrud Gilberto, Dorival Caymmi, Tom Jobim, Eumir Deodato, Stan Kenton, Nelson Riddle, Herbie Mann e Wes Montgomery. O letrista mais constante foi seu irmão, Lysias Enio.

Entre as composições mais conhecidas, estão "A paz", com Gilberto Gil, "A rã", com Caetano Veloso, e "Simples carinho", com Abel Silva.

Do Acre para o mundo

João Donato de Oliveira Neto nasceu em 1934 em Rio Branco, no Acre. A família era musical: a irmã mais velha, Eneyda, estudava piano. Já o irmão caçula, Lysias Ênio, tinha paixão pela poesia e veio a compor a maior parte das letras de composições do artista.

O gosto pelas melodias e o ritmo foi demonstrado desde cedo. Na infância, ele costumava brincar de música com flautinhas de bambu e panelas. Depois, recebeu de presente um acordeom de oito baixos e, mais tarde, um instrumento maior.

Em 1945, mudou-se para o Rio de Janeiro com a família. Na cidade, começou a tocar em festas do colégio onde estudava. Em uma delas, conheceu o grupo Namorados da Lua e fez amizade com Lúcio Alves, Nanai e Chicão.

Quatro anos depois, já atuava em jam-sessions realizadas na casa de Dick Farney e no Sinatra-Farney Fan Club, do qual era membro.

Iniciou sua carreira profissional em 1949, como integrante do grupo Altamiro Carrilho e Seu Regional. Dois anos depois, começou a estudar piano.

Em 1953, formou seu próprio grupo, Donato e Seu Conjunto, e fez parte do grupo Os Namorados. No ano seguinte, formou o Trio Donato.

Em 1956, mudou-se para São Paulo, onde atuou como pianista do conjunto Os Copacabanas e na Orquestra de Luís Cesar e gravou o primeiro LP: “Chá dançante”, produzido por Tom Jobim.

Em 1958, voltou para o Rio de Janeiro e passou a dedicar-se ao piano. Em 1959, viajou para o México com Nanai e Elizeth Cardoso. Em seguida, transferiu-se para os Estados Unidos, onde residiu durante três anos. Nesse país, atuou com Carl Tjader, Johnny Martinez, Tito Puente e Mongo Santa Maria. Donato também excursionou com João Gilberto pela Europa. Em 1962, voltou para o Brasil, casado com a atriz norte-americana Patricia del Sasser.

Em 1963, retornou aos Estados Unidos, onde viveu por mais dez anos.

Lá gravou o disco mais cultuado de sua longa e exitosa trajetória: "A bad Donato" (1970), listado como um dos melhores da música brasileira. O segundo mais citado é "Quem é quem" (1973).

Donato era múltiplo. Como arranjador, destacam-se entre seus trabalhos os CDs “O homem de Aquarius”, de Tom Jobim, e “Minha saudade”, de Lisa Ono, além de discos de Fagner, Gal Costa e Martinho da Vila.

Prêmios

Em 2000, foi contemplado com o Prêmio Shell de Música pelo conjunto da obra e participou do Free Jazz Festival (RJ), obtendo sucesso de público e crítica.

Em 2003, ganhou o Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte).

Em 2004, foi contemplado com o Prêmio Tim pelo disco “Emílio Santiago encontra João Donato”.

Texto e imagem reproduzidos do site: g1 globo com/rj/rio-de-janeiro

quarta-feira, 10 de maio de 2023

Rita Lee, rainha do rock brasileiro, morre aos 75 anos

Texto compartilhado do site G1 GLOBO/POP & ARTE/MÚSICA, de 9 de maio de 2023 

Rita Lee, rainha do rock brasileiro, morre aos 75 anos

Uma das maiores cantoras e compositoras da história do Brasil, ela morreu nesta segunda (8). Rita foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2021 e vinha fazendo tratamentos contra doença.

Por g1

Rita Lee, uma das maiores cantoras e compositoras da história da música brasileira, morreu nesta segunda-feira (8), aos 75 anos. Ela foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2021 e vinha fazendo tratamentos contra a doença.

A família da cantora divulgou um comunicado nas redes sociais dela: "Comunicamos o falecimento de Rita Lee, em sua residência, em São Paulo, capital, no final da noite de ontem, cercada de todo o amor de sua família, como sempre desejou". O velório será aberto ao público, no Planetário do Parque Ibirapuera, na quarta-feira (10), das 10h às 17h.

Rita, a padroeira da liberdade

Rita ajudou a incorporar a revolução do rock à explosão criativa do tropicalismo, formou a banda brasileira de rock mais cultuada no mundo, os Mutantes, e criou canções na carreira solo com enorme apelo popular sem perder a liberdade e a irreverência.

Sempre moderna, Rita foi referência de criatividade e independência feminina durante os quase 60 anos de carreira. O título de “rainha do rock brasileiro” veio quase naturalmente, mas ela achava “cafona” - preferia “padroeira da liberdade”.

Rita Lee Jones nasceu em São Paulo, em 31 de dezembro de 1947. O pai, Charles Jones, era dentista e filho de imigrantes dos EUA. A mãe, a italiana Romilda Padula, era pianista, e incentivou a filha a estudar o instrumento e a cantar com as irmãs. 

Aos 16 anos, Rita integrou um trio vocal feminino, as Teenage Singers, e fez apresentações amadoras em festas de escolas. O cantor e produtor Tony Campello descobriu as cantoras e as chamou para participar de gravações como backing vocals.

Os Mutantes

Em 1964 ela entrou em um grupo de rock chamado Six Sided Rockers que, depois de algumas mudanças de formações e de nomes, deu origem aos Mutantes em 1966. O grupo foi formado inicialmente por Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. 

Eles foram fundamentais no tropicalismo, ao unir a psicodelia aos ritmos locais, e se tornaram o grupo brasileiro com maior reconhecimento entre músicos de rock do mundo, idolatrados por Kurt Cobain, David Byrne, Jack White, Beck e outros.

O trio acompanhou Gilberto Gil em “Domingo no parque” no 3º Festival de Música Popular Brasileira da Record, em 1967, e Caetano Veloso em “É proibido proibir” no 3º Festival Internacional da Canção, da Globo em 1968, dois marcos da tropicália.

Os Mutantes também participaram do álbum “Tropicália ou Panis et Circensis”, de 1968, a gravação fundamental do movimento. 

Ela fez parte dos Mutantes no período mais relevante e criativo da banda, de 1966 a 1972. Gravou “Os Mutantes” (68), “Mutantes” (69), “A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado” (70), “Jardim Elétrico” (71) e “Mutantes e Seus Cometas no País dos Bauretz” (72).

O fim do relacionamento com Arnaldo Baptista coincidiu com a saída dela dos Mutantes. O primeiro álbum solo foi “Build up”, ainda antes de deixar a banda, em 1970. Ela também lançou “Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida”, em 1972, ainda gravado com o grupo.

A carreira solo

A carreira pós-Mutantes tomou forma com o grupo Tutti Frutti, no qual ela gravou cinco álbuns, com destaque para “Fruto proibido”, de 1975, que tinha a música “Agora só falta você”.

A partir de 1979, ela começou a trabalhar em parceria com o marido Roberto de Carvalho, e se firmou de vez na carreira solo. Ela escreveu e gravou canções de pop rock com grande sucesso.

Um dos álbuns mais bem sucedidos foi “Rita Lee”, de 1979, com “Mania de Você”, “Chega mais” e “Doce Vampiro”. No disco de mesmo título do ano seguinte, ela segue na direção mais pop e faz ainda mais sucesso com “Lança perfume” e “Baila comigo”. 

Ela era uma roqueira popular antes e depois de o gênero se tornar um fenômeno comercial no Brasil em meados dos anos 80. Entre os álbuns de destaque estiveram “Saúde” (1981) e “Rita e Roberto” (1985), com o qual os dois subiram ao palco do primeiro Rock in Rio. 

Por volta de 1991, ela começou um período de quatro anos separada de Roberto de Carvalho. O retorno foi em 1995, na turnê do álbum “A marca da Zorra”, quando ela também abriu os shows dos Rolling Stones no Brasil. No ano seguinte, eles se casaram no civil após 20 anos juntos. 

Em 1996, ela caiu da varanda do seu sítio, sob efeito de remédios, e quebrou o recôndito maxilar. Rita começou a tentar largar o álcool e as drogas, mas disse ao “Fantástico” que só conseguiu fazer isso em janeiro de 2006. 

Em 2001, RIta Lee ganhou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa com “3001”. Ela ainda teria mais cinco indicações ao prêmio, e receberia em 2022 o prêmio de Excelência Musical pelo conjunto da obra.

Em 2012, ela anunciou que deixaria de fazer shows por causa da fragilidade física. “Me aposento dos shows, mas da música nunca”, ela escreveu no Twitter. 

Em 28 de janeiro daquele ano, no Festival de Verão de Sergipe, ela fez o show anunciado como último da carreira, quando ela discutiu com um policial. Ela foi acusada de desacato à autoridade, levada à delegacia e liberada em seguida. 

Rita Lee realmente nunca mais fez uma turnê. Mas ainda fez um show no Distrito Federal no fim de 2012, em que abaixou a calça para o público, e cantou no aniversário de São Paulo em 2013, ovacionada pelo público de sua cidade.

Seu último álbum de canções inéditas em estúdio saiu em abril de 2012. “Reza” era, então, seu primeiro trabalho de inéditas em nove anos. A faixa-título foi a música de trabalho, definida por ela como “reza de proteção de invejas, raivas e pragas”.

Ao todo foram 40 álbuns, sendo 6 dos Mutantes, 34 na carreira solo.

Livros e autobiografias

Em 2016, ela lançou “Rita Lee: uma autobiografia”. Uma das revelações do livro foi que ela foi abusada sexualmente aos seis anos de idade por um técnico que foi consertar uma máquina de costura de sua mãe em casa.

No livro, um sucesso de vendas, ela também falou com sinceridade sobre episódios da carreira, como quando foi expulsa dos Mutantes em 1972, e da vida pessoal, como a luta contra o alcoolismo.

Além da autobiografia, Rita Lee tem uma longa trajetória como escritora. A série “Dr. Alex” é de 1983, mas foi relançada em 2019 e 2020 e tem foco na luta pela causa animal e ambiental da cantora. Em março de 2023, ela anunciou "Outra Autobiografia", que está em pré-venda.

Ela também escreveu “Amiga Ursa: Uma história triste, mas com final feliz” na literatura infantil. “FavoRita”, “Dropz”, “Storynhas” e “Rita Lírica” são outros livros escritos pela cantora.

Na TV, Rita participou das novelas “Top Model”, “Malu Mulher”, “Vamp” e “Celebridade” em participações especiais.

Diagnóstico de câncer

Em maio de 2021, Rita Lee foi diagnosticada com câncer de pulmão. Ela seguiu tratamentos de imunoterapia e radioterapia.

Quatro meses depois, ela lançou o último single da carreira, “Changes”, em parceria com o marido Roberto de Carvalho e o produtor Gui Boratto.

Em abril de 2022, seu filho Beto Lee escreveu que ela estava curada do câncer.

Nos últimos anos, ela viveu em um sítio no interior de São Paulo com a família. Ela deixa três filhos: Roberto, João e Antônio.

Texto e imagem reproduzidos do site g1 globo com

sexta-feira, 28 de abril de 2023

O brasileiro que tem 5 milhões de discos de vinil (e quer mais)


Zero Freitas não ouviu todos os seus discos: 
os cinco milhões que tem, talvez apenas cerca de 20 mil.

Apenas meio milhão de discos de Freitas são brasileiros.

Freitas garante que tem espaço para dez milhões de discos.

Estudantes de história trabalham como estagiários
 catalogando o acervo de Freitas.

Um dos objetivos de Freitas é disponibilizar seu catálogo 
na internet para quem quiser acessar seus discos gratuitamente.

Legenda da foto: Além de digitalizar seus discos de vinil, Freitas possui cerca de 100 mil CDs - (Crédito das fotos: Helena Chamone)

Publicação compartilhada do site BBC NEWS, de 28 de agosto de 2014

O brasileiro que tem 5 milhões de discos de vinil (e quer mais)

Elaboração BBC Mundo

Quem já quis ouvir um disco que nunca teve deve se colocar no lugar de Zero Freitas, que tem um problema muito maior: o disco de Tom Jobim que procura está perdido em sua coleção de milhões de vinis.

“Tenho esse disco”, diz o brasileiro de 60 anos, aludindo a um exemplar do génio musical do seu país, autografado no dia do lançamento. "Mas não consigo encontrá-lo."

É possível que esteja em algum recanto dos enormes armazéns paulistas onde Freitas guarda o que talvez seja a maior coleção de discos de vinil do mundo.

Mas longe de se preocupar com o disco perdido ou com todos os discos que ainda não catalogou, Freitas pensa em ampliar o acervo que, segundo ele, já soma mais de cinco milhões de unidades.

"Tenho espaço para o dobro disso", diz em entrevista à BBC Mundo. E faz isso como se fosse apenas uma questão de acomodar algumas maçãs em uma grande fruteira.

Zero Freitas não ouviu todos os seus discos: dos cinco milhões que tem, talvez apenas cerca de 20 mil.

De Barco

Freitas conta que desde pequeno colecionava coisas diversas, como recortes de jornal ou livros, e que aos 12 anos começou a colecionar discos de vinil. Aos 18 fui às lojas e comprei dezenas de discos juntos.

Mas foi na virada do século - quando seu acervo já somava cerca de 100 mil unidades - que ele descobriu o site de compras na internet eBay e acessou um mercado que jamais imaginou estar ao seu alcance.

Ele também notou que, no auge da mania do CD, havia pessoas no primeiro mundo procurando se livrar de lotes de CDs antigos que guardavam há anos.

Dinheiro não era um grande problema para Freitas, sócio e diretor comercial de uma empresa familiar de ônibus em São Paulo. Diz que a sua paixão pelos registos é financiada com as transações imobiliárias que costuma realizar.

Assim, por exemplo, ele chegou a um acordo com um ex-comerciante de música da cidade americana de Pittsburgh chamado Paul Mawhinney, que afirmava ter a maior coleção de vinis do mundo e queria vendê-la. Freitas o adquiriu.

Mas, segundo ele diz, boa parte do que tem recebido também são doações gratuitas, principalmente dos Estados Unidos. O custo de recolhê-los de caminhão em casa, levá-los ao porto e despachá-los para o Brasil é de cerca de 20 centavos de dólar por disco.

Hoje tem até cópias de música japonesa ou de discursos de Hitler (que, esclarece, nunca o interessaram) e calcula que dois terços dos seus discos de vinil não têm valor comercial, mas o resto teria um preço se pretendesse vendê-lo.

Ele calcula que o valor médio de cada disco pode chegar a um real. Toda a sua coleção valeria então quase US$ 2,2 milhões, mas Freitas nega que seu plano seja fazer negócios.

"Eu nunca vendi um disco", diz ele.

Música e terapia

Freitas é cauteloso ao avaliar se sua coleção é a maior do mundo. "Eu não posso dizer isso", diz ele. "Acho que tem muita gente com milhões de discos que nem divulga."

Quase 90% das que tem são estrangeiras e apenas 500 mil são brasileiras.

Ele diz que as ofertas não param de vir de fora. Por exemplo, depois de um artigo recente publicado sobre ele pelo The New York Times, ele recebeu um e-mail da biblioteca de Paris pedindo-lhe para doar 5.000 discos repetidos de música clássica.

"Hoje eu tenho esse problema", reflete. "Eu tenho que pegar um caminhão em Paris."

Ele conta ainda que há muito tempo parou de "caçar" exemplares raros no mercado e agora sua prioridade é ampliar seu acervo de discos brasileiros.

Ele fez um convênio com a universidade para que alunos de história trabalhem como estagiários catalogando seu acervo, em ordem cronológica, de acordo com a data de chegada ao depósito.

E pretende criar um instituto sem fins lucrativos, que colocará o catálogo na internet para quem quiser acessar um determinado registro gratuitamente, com interesse profissional ou pessoal.

Ele aponta que uma dificuldade é que o Brasil não tem o costume de doar que existe em outros lugares.

Mas ele garante que depois de anos de terapia que faz desde a adolescência, aprendeu a ter uma relação equilibrada com seus discos.

“Trabalho para não ser escravo deles”, esclarece. "Porque se não, você tem um problema de saúde física e mental."

Questionado sobre qual álbum gostaria de ter que está faltando, ele cita a edição em inglês de "London London", do cantor e compositor brasileiro Caetano Veloso.

Mas na hora de definir seu disco preferido, ele fala de Bidu Sayão - soprano brasileiro falecido em 1999 - cantando peças de Heitor Villa-Lobos. “Eu a escuto e choro”, admite Freitas.

No entanto, ele estima ter ouvido apenas uma pequena fração de sua coleção: 20.000 discos, talvez?

Hoje à noite ele diz que em sua casa vai tocar um da cantora brasileira Zélia Duncan, mas em CD porque nunca foi lançado em vinil. E Freitas também não parece fundamentalista: afirma também possuir quase 100 mil CDs.

Um dos objetivos de Freitas é disponibilizar seu catálogo na internet para quem quiser acessar seus discos gratuitamente.

Texto e imagens reproduzidos do site: bbc com

Zero Freitas: brasileiro é o maior colecionador de vinil do mundo




Publicação compartilhada do site MEGA CURIOSO, de 23 de abril de 2023 

Zero Freitas: brasleiro é o maior colecionador de discos de vinil do mundo 

 Por Alejandro Sigfrido Mercado Filho

O vinil já foi considerado ultrapassado, mas hoje ostenta o posto de objeto de desejo. E ninguém melhor que o empresário brasileiro Zero Freitas para entender do assunto. Ele detém a maior coleção de discos de vinil do mundo, com mais de 8 milhões de unidades.

Apesar da magnitude de seus números, Freitas nem mesmo foi capaz de catalogar o material que possui. Segundo dados de uma reportagem do Agora São Paulo, o colecionador não tinha nem 5% de seus vinis registrados, o que indica que muitas pérolas podem estar escondidas em seu acervo.

Atualmente com 70 anos, Zero Freitas viu sua paixão por música surgir ainda na infância. À época, sua mãe já cuidava de uma singela coleção de LPs com cerca de 500 discos. Mas o pontapé dessa paixão pode ser creditado ao pai, que adquiriu um aparelho de som com vitrola junto com 200 discos.

Entre os vinis, o pai de Zero comprou álbuns de Ray Conniff, Ray Charles, Tony Bennett e Frank Sinatra, além de alguns discos de ópera, o que moldou o gosto do garoto, então com 7 anos. Já aos 10, com sua primeira mesada, deu um empurrão no que viria a ser sua coleção, destinando o dinheiro à aquisição de discos dos Beatles e do músico Roberto Carlos.

Não tardou para Zero tornar a pequena coleção da mãe em um robusto acervo de 3 mil discos, ainda durante o ensino médio. Quando se formou em composição musical na faculdade, próximo dos 30 anos, sua coleção já estava com quase 30 mil unidades. A vida o levou a assumir o negócio de transportes da família, mas a paixão pelo vinil nunca acabaria.

Muita gente não saberia sobre o brasileiro não fosse uma reportagem feita pelo The New York Times em 2014. Tudo surgiu por conta da aquisição milionária de Zero do acervo de Paul Mawhinney, um colecionador famoso nos Estados Unidos, responsável pela compra do estoque da renomada loja Colony Records, que ficava no coração de Manhattan.

No mesmo leilão, o brasileiro arrematou a coleção de Murray Gershenz, tornando-se o maior colecionador de discos de vinil do mundo naquele momento, com mais de 6 milhões de unidades. Ou, nas palavras do próprio Zero Freitas, o maior conhecido pelo menos, já que "deve ter um cara com uns 10 milhões, anônimo como eu era", como disse para a reportagem do Agora São Paulo.

A reportagem do jornal impulsionou o conhecimento global sobre Zero Freitas, permitindo que se descobrisse seu olhar para projetos públicos. Ele faz doações para alunos de escolas públicas montarem discotecas nas bibliotecas das instituições. Também mantém sua coleção aberta a pesquisadores. Interessou? É só entrar em contato pelos e-mails zero@armazemdaluz.com ou acervo@armazemdaluz.com.

Em seu acervo, Zero Freitas possui muitos clássicos, como discos raros da Ópera de São Francisco presenteados por Terence McEwan; Louco por Você, disco de estreia do rei Roberto Carlos, autografado; Revolution of the Mind, de James Brown, também autografado, além de notáveis clássicos nacionais, como Emilinha Borba, Dalva de Oliveira e Silvio Caldas.

Segundo Zero Freitas, só de Gal Costa, Caetano Veloso e Gilberto Gil ele afirma possuir 100 unidades de cada álbum dos artistas. Seu acervo de música cubana é o maior do mundo. Ao todo, são mais de 100 mil discos.

O colecionador é realmente um apaixonado por música, tanto que doou para o ARChive of Contemporary Music, uma biblioteca sem fins lucrativos localizada em Nova York, mais de 10 mil discos brasileiros, ganhando um acervo no local com seu nome.

Texto e imagens reproduzidos do site: megacurioso com br

sexta-feira, 21 de abril de 2023

1968 - Juca Chaves - Presidente Bossa Nova

REGISTRO notícia de: 26/03/2023 > Juca Chaves (1938 - 2023)

Crédito da foto: Reprodução/Facebook Juca Chaves

REGISTRO de notícia publicada em 26/03/2023

Publicação compartilhada do site CNN BRASIL, de 26 de março de 2023

Morre aos 84 anos o compositor, músico e humorista Juca Chaves

Artista, um dos únicos músicos que cultivavam o estilo modinha, será cremado no cemitério Parque Bosque da Paz, em Salvador

Da CNN

O compositor, músico e humorista Juca Chaves morreu na noite desse sábado (25), aos 84 anos.

O artista, que estava no Hospital São Rafael, em Salvador, será cremado no cemitério Parque Bosque da Paz. Segundo o hospital, ele teve complicações respiratórias.

“O Hospital São Rafael lamenta a morte do paciente Juca Chaves na noite deste sábado (25) devido a complicações de problemas respiratórios e se solidariza com a família e amigos por essa irreparável perda”, diz a nota da instituição.

Nascido em 1938, Juca Chaves, originalmente Jurandyr Czaczkes Chaves, é carioca, mas morava na capital baiana. Com formação erudita, ele iniciou a carreira na música no final da década de 1950. O artista é responsável pela música “Presidente bossa-nova”, que fazia referência ao presidente Juscelino Kubitschek. Do célebre compositor Vinicius de Moraes, ele recebeu o apelido de “Menestrel Maldito”, expressão que virou o título de um de seus trabalhos: “O Menestrel do Brasil”.

Juca Chaves é um dos grandes representantes do estilo modinha. Crítico da ditadura militar, ele fez vários shows no período do regime, com a marca do humor e das modinhas, e chegou a exilar-se em Paris por dez anos durante o período político. O auge de sua carreira foi nas décadas de 1960, 1970 e 1980, quando lançou dezenas de discos.

Ele deixa a esposa, Yara Chaves, e duas filhas, Maria Moreno e Maria Clara, com quem vivia na região de Itapuã, em Salvador.

A morte do artista foi lamentada pelo prefeito de Salvador, Bruno Reis, que em suas redes sociais disse: “Perdemos um artista completo, que misturava música e humor de uma forma ácida e divertida. Amou Salvador, da mesma maneira que cativou a gente com seu jeito único”.

Jerônimo Rodrigues, governador da Bahia, também se manifestou, elogiando o “humor sempre sofisticado e tão fiel ao retratar o Brasil”. “Juca era carioca, cantor e compositor, humorista e “baiano” por escolha”.

O ex-governador do Paraná Álvaro Dias declarou que Chaves “era dono de um humor inteligente e irreverente”. “Rimos muito com ele”, publicou.

O São Paulo Futebol Clube, time pelo qual Chaves torcia, homenageou-o em seus perfis: “Além de importante figura artística nacional, Juca era torcedor do Mais Querido, e foi autor da música “Marchinha do São Paulo”, em homenagem ao clube do coração”.

*Publicado por Salma Freua, com informações de Agência Câmara

Texto e imagem reeproduzidos do site: cnnbrasil com br

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Artigo: 'Música, música, música', por Marcos Melo

Foto: Ilustração/Internet

Publicação compartilhada do site RADAR SERGIPE, de 5 de janeiro de 2023

Artigo: Música, música, música
Por Marcos Melo*

Costumo dizer que minha geração foi musicalmente privilegiada. Na adolescência, nos anos 1950, fomos de rock’n roll, com Bill Haley e seus Cometas, Elvis, Litle Richard, Neil Sedaka, Paul Anka, Pat Boone, Sérgio Murilo, Cely Campelo, Carlos Gonzaga e outros mais.

Precisamente, às 18:05 hs, sintonizávamos a Rádio Mayrink Veiga para ouvirmos “Hoje é Dia de Rock”, programa idealizado e produzido por Jair de Taumaturgo, sob a locução de Isaac Zaltman, que apresentava as últimas gravações e novidades do mundo do rock. Foi ouvindo esse programa, num rádio SEMP a todo volume, que três jovens propriaenses criaram “Os Diabos Louros do Rock”, trio de muito sucesso na cidade. Certamente, a dupla Roberto e Erasmo Carlos, futuros ídolos da Jovem Guarda, também o ouvia.

A década de 1960 começou com o estouro mundial dos reis do iê, iê, iê. Sim, eles mesmos, os Beatles, com dezenas de canções cada uma melhor do que a outra. “A Hard Day’s Night” deu o tom e desencadeou uma revolução na música pop iniciada em 1962 e concluída em 1970 com a dissolução do quarteto, que até hoje reverbera nos quatro cantos do planeta.

Por aqui, basta lembrar os inúmeros conjuntos e bandas criados na esteira do “Fabulous Four”, com destaque para “Renato e Seus Blue Caps” que, por mais de 50 anos, fez milhares de shows e animou milhares de bailes tendo por carro-chefe “Menina Linda”, a versão feita por Renato Barros de “I Should Have Know Better”, mega sucesso dos Beatles. Os Blue Caps até 2019 estavam ativos. Com a morte do líder em 2020, não se sabe se o conjunto continuará na estrada.

Musicalmente pródiga e contestadora nos costumes e na política, a década de 1960, a partir da gravação de “Chega de Saudade”, por João Gilberto, em 1958, viu surgir a bossa nova que projetou mundialmente a música popular brasileira, sobretudo depois do célebre concerto do Carnegie Hall, em Nova York, no dia 21 de novembro de 1962, portanto há exatos 60 anos; e, em seguida, com a gravação dos LPs Getz/Gilberto, em 1964, que lançou Astrud Gilberto interpretando Garota de Ipanema em inglês; e Francis Albert Sinatra & Antônio Carlos Jobim, em 1966. A esplêndida música de Jobim ganhou o mundo e João Gilberto tornou-se um cantor/instrumentista cult.

Por sua vez, o rock brasileiro ganhou dimensão nacional alicerçado no extraordinário caudal de expressivas composições da dupla Roberto/Erasmo Carlos. Músicas icônicas a exemplo de “Quero que vá tudo para o Inferno”, “Festa de Arromba”, “Detalhes” e “Gatinha Manhosa” bem definem a trilha sonora da Jovem Guarda, que tem algo de contestador, mas que enfeixa uma elevada dose de romantismo. No vácuo da dupla aparecem os Golden Boys, Jerry Adriani, Wanderléa, Nilton César, Evinha, Eduardo Araújo, Wanderley Cardoso e, last but not least, a dupla Leno e Lilian, ele falecido há poucos dias. Com o recente desaparecimento de Erasmo Carlos, só resta, dessa geração, o rei Roberto Carlos, que há mais de meio século flana no topo do sucesso embalado por canções marcantes.

A década de 1960 também foi a dos festivais, certames musicais que revelaram talentosos artistas que enriqueceriam enormemente a MPB: Chico Buarque (A Banda, Roda Viva), Caetano Veloso (Alegria, Alegria), Gilberto Gil (Domingo no Parque), Milton Nascimento (Travessia), Edu Lobo (Arrastão, Upa Neguinho), Ivan Lins (Madalena), Paulinho da Viola (Sinal Fechado), Geraldo Vandré (Disparada, Caminhando/Para não Dizer que não Falei de Flores), Taiguara (Hoje), Gonzaguinha (O Trem) e outros. Os anos 1960 também revelaram cantoras excepcionais como Elis Regina, Nara Leão, Maria Betânia, Clara Nunes, Rita Lee, Nana Caymmi e a afinadíssima Gal Costa, também há poucos dias falecida.

Com tanta música boa, todos nós então cantávamos, porque quem canta seus males espanta e para amenizar a travessia daqueles dias sombrios tutelados pelo regime militar. Pois bem, aos 19 anos, em 1964, aprovado em concurso público, fui trabalhar no Banco Comércio e Indústria de Minas Gerais onde tive a satisfação de conhecer Murilo de Mattos Dantas, acadêmico de Direito e responsável pelo setor de cadastro. Guapo bem nascido, cantor afinado, percussionista criativo, Murilo tinha todas as letras de músicas que se possa imaginar grafadas em vários cadernos bem cuidados. Acho mesmo que ele ainda os tem, pois, agora como fundador da Bandáguia, prossegue em sua melódica caminhada levando alegria aos quatro cantos da cidade, sobretudo aos residentes no Asilo Rio Branco.

Esses cadernos eram a bíblia das serenatas que fazíamos. Sim, eram serestas realizadas com esmero, planejada no repertório e nos locais onde íamos cantar. Embarcados no DKW Vemag, de Murilo – o próprio, Otávio (Tatau), Bosco e eu – seguíamos para a proximidade das casas onde residiam as garotas alvo de nossa cantoria, especialmente das colegas de banco Hortência, Vera e Isaura. O repertório constava de músicas da Jovem Guarda – Gatinha Manhosa, A Volta, Feche os Olhos – de boleros: Perfídia, La Barca, Dos Almas; e de sambas-canção: Nem Eu, A Noite do Meu Bem. Havia uma música, acho que era “Boa Noite”, que tinha uns versos que diziam: “O peixe quer o rio/O rio quer o mar/E eu quero você todinha para amar.” Essa canção, em ritmo de balada romântica, era especialidade de Tatau, para mim, o único beatnik do pedaço.

Com o tempo fomos ganhando prestigio de bons seresteiros. Tanto que colegas nossos pediam que fôssemos cantar na porta de suas namoradas. Deu até casamento. Este é caso de Jugurta Lima Franco, tesoureiro do banco, que namorava Margarida Diniz, estudante de Medicina. Casaram-se, constituíram uma bela família e foram felizes para sempre.

Bons tempos aqueles em que se podia cantar altas horas da noite nas ruas de Aracaju! “Estou guardando o que há de bom em mim...” Lembram?

* Marcos Melo e professor emérito da UFS e membro da ASL.

Texto e imagem reproduzidos do site: radarsergipe.com.br

terça-feira, 22 de novembro de 2022

Morre Erasmo Carlos... símbolo da Jovem Guarda

Legenda da foto: Erasmos Carlos durante apresentação na Expocrato em julho — (Crédito da foto: Divulgação).

Publicação compartilhada do site G1 GLOBO RJ, de 22 de novembro de 2022 

Morre Erasmo Carlos, pioneiro do rock no Brasil e símbolo da Jovem Guarda

Cantor e compositor, Tremendão tinha 81 anos e estava internado no Hospital Barra D'Or, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Por g1 Rio

O cantor e compositor Erasmo Carlos, de 81 anos, morreu nesta terça-feira (22) no Rio de Janeiro. Um dos pioneiros do rock e símbolo da Jovem Guarda, o artista estava internado no Hospital Barra D'Or, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste da cidade.

O Tremendão, como era chamado, deixa a esposa e três filhos.

No último dia 2, o artista comemorou a alta após duas semanas de internação para tratar uma síndrome edemigênica. Mas Erasmo voltou a ser hospitalizado — a TV Globo apurou que ele chegou a ser intubado na última segunda-feira (21).

A doença ocorre quando há um desequilíbrio das forças bioquímicas que mantêm os líquidos dentro dos vasos sanguíneos e geralmente é causada por patologia cardíacas, renais e dos próprios vasos.

"Você é lar, você acolhe, você enxerga, você crê. Perdi a capacidade de me lembrar de como era a vida sem você, talvez ela nem tenha existido... e talvez tenha sido tão simples esquecer porque a gente se acostuma facilmente com a paz. Não foi de primeira, você brigou muito para mostrar, mas por fim encontrei a paz em você", postou a mulher de Erasmo, Fernanda Passos.

Mais de 600 músicas

Autor de mais de 600 músicas e de clássicos como “Sentado à Beira do Caminho”, “Minha Fama de Mau”, “Mulher”, “Quero que tudo vá para o inferno”, “Mesmo que seja eu” e “É proibido fumar”, o artista deixa uma legião de fãs e amigos que fez pela estrada.

Foi na Tijuca onde nasceu Erasmo Esteves, em 5 de junho de 1941. Grandes nomes da MPB participaram da infância do cantor, no bairro da Zona Norte do Rio, como Tim Maia e Jorge Ben Jor.

Na adolescência, gostava de se reunir com a turma no Bar do Divino, na Rua do Matoso. Foi nessa época em que ele conheceu Roberto Carlos, durante um concerto de Bill Haley no Maracanãzinho – o que teria aberto os olhos do carioca para começar seu próprio grupo.

Assim, antes da carreira solo, o artista passou por outros grupos musicais, como os Snakes, ao lado de outros tijucanos, mas que durou só até 1961. Sem acreditar que conseguiria seguir sozinho na música, ele decidiu, então, trabalhar como assistente do apresentador e produtor Carlos Imperial, que o ajudou a dar o próximo passo, rumo a outro grupo musical.

Mais tarde, ele se tornou, então, vocalista do grupo Renato & Seus Blue Caps. Erasmo garantiu a contratação do conjunto por uma gravadora e fez sucesso em uma faixa ao lado de Roberto Carlos, marcando o início da parceria entre os dois. Erasmo compôs mais de 500 canções com o amigo.

“Erasmo Carlos”, portanto, não passava de um nome artístico em homenagem aos parceiros que estiveram com ele no início da carreira: Roberto Carlos e Carlos Imperial. Outros apelidos lhe acompanharam: Tremendão e Gigante Gentil.

Poucos anos depois, ainda nos anos 60, a dupla Roberto e Erasmo já se destacava como uns dos principais compositores da Jovem Guarda ao som do iê-iê-iê. Sob influência do pop britânico dos Beatles, o carioca se mudou para São Paulo e, com o passar dos discos, Erasmo se tornava ícone da bossa e da MPB.

Não muito tempo longe de casa, ele voltou a morar no Rio de Janeiro após gravar “Aquarela do Brasil”, em 1969. Em 1985, Erasmo esteve na primeira edição do Rock in Rio, nas plateias lamacentas.

Ainda em 2001, o cantor lançava seu 22º disco, “Pra Falar de Amor”, quando completou 60 anos. No ano seguinte, Erasmo reunia já 40 anos de carreira. Na comemoração dos 50 anos de estrada, a festa foi no Theatro Municipal do Rio.

Ao longo dos anos, grandes nomes se juntaram ao artista, como Chico Buarque, Lulu Santos, Zeca Pagodinho, Skank, Los Hermanos, Djavan, Adriana Calcanhotto, Marisa Monte, Frejat, Marisa e Milton Nascimento.

Em seu último aniversário, o Tremendão usou as redes sociais para fazer um post autobiográfico.

“Sou o resultado das minhas realizações…gols e bolas na trave fazem parte do jogo já que a vida é curta e minha vontade é eterna…sou o que pude e o que tentei ser plenitude…quis ser muitos e sobrou um quando dispensei meia-dúzia dos que não me souberam ser…contagiado pelo bem tornei-me um guerreiro da paz…o meu canto será ouvido assim como o som dos ventos, enquanto o sol brilhar e as lembranças resistirem…dei passos vendados em caminhos movediços para ser merecedor de um lugar no pódio do amor !!! FELIZ ANIVERSÁRIO PARA MIM !!!”, postou.

Texto e imagem reproduzidos do site: g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Gal Costa, uma das maiores cantoras do Brasil, morre aos 77 anos

Crédito da foto: Adriana Spaca/Brazil Photo Press via AFP/Arquivo

Publicado originalmente no site G1 GLOBO, em 9 de novembro de 2022  

Gal Costa, uma das maiores cantoras do Brasil, morre aos 77 anos

Informação foi confirmada pela assessoria da cantora. Foram 57 anos de carreira e clássicos da MPB como 'Baby', 'Meu nome é Gal', 'Chuva de Prata', 'Meu bem, meu mal' e 'Barato total'.

Por g1

Gal Costa, uma das maiores cantoras do Brasil, morreu aos 77 anos, em São Paulo, nesta quarta-feira (9). A informação foi confirmada pela assessoria da cantora. Ela havia dado uma pausa em shows, após passar por uma cirurgia para retirar um nódulo na fossa nasal direita.

Maria da Graça Costa Penna Burgos nasceu em 26 de setembro de 1945 em Salvador e foi a voz de clássicos da MPB como "Baby", "Meu nome é Gal", "Chuva de Prata", "Meu bem, meu mal", "Pérola Negra" e "Barato total".

Foram 57 anos de carreira, iniciada em 1965, quando a cantora apresentou músicas inéditas de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Ela ainda era Maria da Graça quando lançou "Eu vim da Bahia", samba de Gil sobre a origem da cantora e do compositor.

Três anos depois, veio outro clássico: "Baby", de Caetano Veloso. A canção foi feita para Maria Bethânia, mas Gal a lançou em disco e a projetou no álbum-manifesto da Tropicália. "Divino maravilhoso" (de Gil e Caetano) foi outra da fase tropicalista.

Ao longo dos anos 60 e 70, ela seguiu misturando estilos. Dedicou-se ao suingue de Jorge Ben Jor com "Que pena (Ela já não gosta mais de mim)" e foi pelo rock com "Cinema Olympia", mais uma de Caetano. "Meu nome é Gal", de Roberto e Erasmo Carlos, serviu como carta de apresentação unindo Jovem Guarda e Tropicália.

Ao gravar "Pérola negra", em 1971, ajudou a revelar o então jovem compositor Luiz Melodia (1951-2017). No mesmo ano, lançou "Vapor barato", mostrando a força dos versos de Jards Macalé e Waly Salomão.

Ela seguiu gravando várias músicas de Gil e Caetano, mas foi incluindo no repertório versos de outros compositores como Cazuza ("Brasil", 1998); Michael Sullivan e Paulo Massadas ("Um dia de domingo", de 1985); e Marília Mendonça ("Cuidando de longe", 2018).

Na longa carreira, Gal lançou mais de 40 álbuns entre discos de estúdio e ao vivo. "Fa-tal", "Índia" e "Profana" foram três dos principais.

Ela estava em turnê com o show "As várias pontas de uma estrela", no qual revisitava grandes sucessos dos anos 80 do cancioneiro popular da MPB. "Açaí", "Nada mais", "Sorte" e "Lua de mel" eram algumas das músicas do repertório.

Bem recebido pelo público e pela crítica, esse show fez com que a agenda de Gal ficasse agitada após a pandemia. A estreia aconteceu em São Paulo, em outubro do ano passado.

Além de rodar o Brasil, Gal entrou na programação de vários festivais e ainda tinha uma turnê na Europa prevista para novembro.

Ela deixa o filho Gabriel, de 17 anos, que inspirou o último álbum de inéditas. "A pele do futuro", de 2018, foi o 40º disco da carreira. "Está vindo a geração que salvará o planeta", disse ela ao g1, quando lançou o álbum.

O último álbum lançado foi "Nenhuma Dor", em 2021, quando Gal regravou músicas como "Meu Bem, Meu Mal", "Juventude Transviada" e "Coração Vagabundo", com cantores como Seu Jorge, Tim Bernardes e Criolo.

Texto e imagem reproduzidos do site: g1.globo.com

sábado, 24 de setembro de 2022

Artigo: Elifas Andreato e as coisas que aprendi nos discos

Crédito da foto: Divulgação

Publicação compartilhada do site RADAR SERGIPE, de 12 de abril de 2022  

Artigo: Elifas Andreato e as coisas que aprendi nos discos

Por Eduardo Oliva

Se hoje é o Google a maior fonte de informações “correta ou não, branca, suave, muito limpa, muito leve”(Belchior) ou até muito falsa, foram os discos, nos anos 70 do século que passou, o principal instrumento para se formar consciências, tomar atitudes, dizer as coisas e mexer com corações e mentes, enfim, o grande condutor da cultura daqueles tempos. Sou da geração do vinil, da juventude que esperava os LPs para se deleitar com os encartes muito bem trabalhados e escutar, muito mais que simplesmente ouvir.

Escutar discos não era o ouvir de hoje onde o dizer das letras soa como uma realidade sem sentido nem metáforas, pontuando talvez uma alucinação coletiva onde o escutar faz muito pouco sentido. A palavra alucinação é também emblemática para pontuar o momento em que floresce tantas idéias fascistas, a mediocridade impera e pede-se até a volta do arbítrio.

O que se vê hoje tem muito do que foi anunciado há quase cinquenta anos quando em 1976 Belchior lançou “Alucinação”: sua música e poesia soaram como algo inusitado ao que se ouvia. Belchior chegou dizendo “eu quero é que esse canto torto feito faca, corte a carne de vocês”.

Vendo o mundo de hoje onde a mediocridade triunfa, a vilania assume um papel quase natural se pode observar como os discos foram fundamentais na formação de uma consciência crítica brasileira que, entretanto, não se afirmou como legado definitivamente consolidado.

Nos anos da ditadura onde a censura imperava, Belchior cantou como se reconhecesse a vitória da estupidez e dizia: “cuidado, meu bem, há perigo na esquina, eles venceram e o sinal está fechado prá nós que somos jovens” e arrematava: “minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais...”.

No final dos anos 60 e início dos anos 70 o mundo vivia em tremendo rebuliço. Na Europa, dois anos antes os estudantes armaram as famosas barricadas de Paris, fazendo explodir nas ruas uma contestação que ia para além do mero protesto contra o governo do General De Gaulle. No ano seguinte na cidade de Bethel, no estado de Nova York nos Estados Unidos o Festival de Woodstock foi a mais completa tradução da contracultura e o evento símbolo da geração hippie. O rock and rol, uma invenção dos anos 1950 explodiram e os Beatles e os Rolling Stones eram como ainda hoje são amados.

Os discos eram uma síntese de toda a cultura que se vivia e não eram somente o que deles se extraia musicalmente. Passaram a ser também um grande instrumento das artes gráficas, onde artistas trabalhavam metáforas, idéias, um mundo para além do imaginário. Quem, da geração 70 ou 80 não se lembra da antológica capa do LP “The dark side of the moon” ("O lado negro da lua") do Pink Floyd por muitos conhecido como o disco do prisma onde um feixe de luz atinge uma pirâmide e transforma-se em um arco-íris?

A indústria fonográfica, contudo mudou. O próprio nome já nem faria sentido se fosse considerar a palavra “grafia” que é a representação escrita de uma palavra e que tinha nos discos para além da gravação sonora também os encartes. Os discos praticamente já não existem como objeto de consumo. Hoje os chamados streaming, as plataformas digitais expulsaram os discos e com ele os encartes e as capas que muitas vezes antecipavam o que os discos teriam a dizer.

No Brasil um artista gráfico pontuou, nos discos, acima de todos os demais. Foi o paranaense Elifas Andreato, morto essa semana aos 76 anos (dia 29/03) e que legou à cultura brasileira mais de 700 ilustrações e foi o responsável por mais de trezentas capas de artistas do naipe de Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Chico Buarque, Clara Nunes, Elis Regina, Adoniran Barbosa, Clementina de Jesus, Vinicius de Moraes e Toquinho. Também criou capas de livros, cartazes para peças de teatro e, por sua mensagem, foi perseguido pela ditadura militar.

Quando se for olhar para o que se produziu de cultura nos últimos cinquenta anos toda a exuberância da obra der Elifas Andreato vai dizer muito justamente em capas de discos, onde lá estará em exuberantes ilustrações um pedaço importante da história da cultura do país principalmente a história da resistência, ao arbítrio e ao banal pela genialidade de um dos maiores artistas gráficos que esse país já teve.

Texto e imagem reproduzidos do site: radarsergipe.com.br

sábado, 27 de agosto de 2022

Paula Toller Amora - cantora e compositora brasileira




Paula Toller Amora é uma cantora e compositora brasileira, considerada uma das melhores vozes meio-soprano dramático da música popular brasileira. Atualmente em carreira solo, também é conhecida por ter sido vocalista da banda Kid Abelha, que teve seu fim anunciado em 2016 (Fonte: Wikipédia).