sexta-feira, 28 de abril de 2023

O brasileiro que tem 5 milhões de discos de vinil (e quer mais)


Zero Freitas não ouviu todos os seus discos: 
os cinco milhões que tem, talvez apenas cerca de 20 mil.

Apenas meio milhão de discos de Freitas são brasileiros.

Freitas garante que tem espaço para dez milhões de discos.

Estudantes de história trabalham como estagiários
 catalogando o acervo de Freitas.

Um dos objetivos de Freitas é disponibilizar seu catálogo 
na internet para quem quiser acessar seus discos gratuitamente.

Legenda da foto: Além de digitalizar seus discos de vinil, Freitas possui cerca de 100 mil CDs - (Crédito das fotos: Helena Chamone)

Publicação compartilhada do site BBC NEWS, de 28 de agosto de 2014

O brasileiro que tem 5 milhões de discos de vinil (e quer mais)

Elaboração BBC Mundo

Quem já quis ouvir um disco que nunca teve deve se colocar no lugar de Zero Freitas, que tem um problema muito maior: o disco de Tom Jobim que procura está perdido em sua coleção de milhões de vinis.

“Tenho esse disco”, diz o brasileiro de 60 anos, aludindo a um exemplar do génio musical do seu país, autografado no dia do lançamento. "Mas não consigo encontrá-lo."

É possível que esteja em algum recanto dos enormes armazéns paulistas onde Freitas guarda o que talvez seja a maior coleção de discos de vinil do mundo.

Mas longe de se preocupar com o disco perdido ou com todos os discos que ainda não catalogou, Freitas pensa em ampliar o acervo que, segundo ele, já soma mais de cinco milhões de unidades.

"Tenho espaço para o dobro disso", diz em entrevista à BBC Mundo. E faz isso como se fosse apenas uma questão de acomodar algumas maçãs em uma grande fruteira.

Zero Freitas não ouviu todos os seus discos: dos cinco milhões que tem, talvez apenas cerca de 20 mil.

De Barco

Freitas conta que desde pequeno colecionava coisas diversas, como recortes de jornal ou livros, e que aos 12 anos começou a colecionar discos de vinil. Aos 18 fui às lojas e comprei dezenas de discos juntos.

Mas foi na virada do século - quando seu acervo já somava cerca de 100 mil unidades - que ele descobriu o site de compras na internet eBay e acessou um mercado que jamais imaginou estar ao seu alcance.

Ele também notou que, no auge da mania do CD, havia pessoas no primeiro mundo procurando se livrar de lotes de CDs antigos que guardavam há anos.

Dinheiro não era um grande problema para Freitas, sócio e diretor comercial de uma empresa familiar de ônibus em São Paulo. Diz que a sua paixão pelos registos é financiada com as transações imobiliárias que costuma realizar.

Assim, por exemplo, ele chegou a um acordo com um ex-comerciante de música da cidade americana de Pittsburgh chamado Paul Mawhinney, que afirmava ter a maior coleção de vinis do mundo e queria vendê-la. Freitas o adquiriu.

Mas, segundo ele diz, boa parte do que tem recebido também são doações gratuitas, principalmente dos Estados Unidos. O custo de recolhê-los de caminhão em casa, levá-los ao porto e despachá-los para o Brasil é de cerca de 20 centavos de dólar por disco.

Hoje tem até cópias de música japonesa ou de discursos de Hitler (que, esclarece, nunca o interessaram) e calcula que dois terços dos seus discos de vinil não têm valor comercial, mas o resto teria um preço se pretendesse vendê-lo.

Ele calcula que o valor médio de cada disco pode chegar a um real. Toda a sua coleção valeria então quase US$ 2,2 milhões, mas Freitas nega que seu plano seja fazer negócios.

"Eu nunca vendi um disco", diz ele.

Música e terapia

Freitas é cauteloso ao avaliar se sua coleção é a maior do mundo. "Eu não posso dizer isso", diz ele. "Acho que tem muita gente com milhões de discos que nem divulga."

Quase 90% das que tem são estrangeiras e apenas 500 mil são brasileiras.

Ele diz que as ofertas não param de vir de fora. Por exemplo, depois de um artigo recente publicado sobre ele pelo The New York Times, ele recebeu um e-mail da biblioteca de Paris pedindo-lhe para doar 5.000 discos repetidos de música clássica.

"Hoje eu tenho esse problema", reflete. "Eu tenho que pegar um caminhão em Paris."

Ele conta ainda que há muito tempo parou de "caçar" exemplares raros no mercado e agora sua prioridade é ampliar seu acervo de discos brasileiros.

Ele fez um convênio com a universidade para que alunos de história trabalhem como estagiários catalogando seu acervo, em ordem cronológica, de acordo com a data de chegada ao depósito.

E pretende criar um instituto sem fins lucrativos, que colocará o catálogo na internet para quem quiser acessar um determinado registro gratuitamente, com interesse profissional ou pessoal.

Ele aponta que uma dificuldade é que o Brasil não tem o costume de doar que existe em outros lugares.

Mas ele garante que depois de anos de terapia que faz desde a adolescência, aprendeu a ter uma relação equilibrada com seus discos.

“Trabalho para não ser escravo deles”, esclarece. "Porque se não, você tem um problema de saúde física e mental."

Questionado sobre qual álbum gostaria de ter que está faltando, ele cita a edição em inglês de "London London", do cantor e compositor brasileiro Caetano Veloso.

Mas na hora de definir seu disco preferido, ele fala de Bidu Sayão - soprano brasileiro falecido em 1999 - cantando peças de Heitor Villa-Lobos. “Eu a escuto e choro”, admite Freitas.

No entanto, ele estima ter ouvido apenas uma pequena fração de sua coleção: 20.000 discos, talvez?

Hoje à noite ele diz que em sua casa vai tocar um da cantora brasileira Zélia Duncan, mas em CD porque nunca foi lançado em vinil. E Freitas também não parece fundamentalista: afirma também possuir quase 100 mil CDs.

Um dos objetivos de Freitas é disponibilizar seu catálogo na internet para quem quiser acessar seus discos gratuitamente.

Texto e imagens reproduzidos do site: bbc com

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