sábado, 22 de janeiro de 2022

Elza Soares morre aos 91 anos



Publicado originalmente no site G1 GLOBO, em 20 de janeiro de 2022 


Elza Soares morre aos 91 anos 


Ela morreu de causas naturais em casa no Rio de Janeiro nesta quinta (20). Uma das maiores cantoras do Brasil, ela lançou 35 discos com mistura de samba, jazz, eletrônica, hip hop e funk. 


Por g1 


Elza Soares morreu aos 91 anos nesta quinta-feira (20), no Rio de Janeiro. "É com muita tristeza e pesar que informamos o falecimento da cantora e compositora Elza Soares, aos 91 anos, às 15 horas e 45 minutos em sua casa, no Rio de Janeiro, por causas naturais", diz o comunicado enviado pela assessoria da cantora. 


"Ícone da música brasileira, considerada uma das maiores artistas do mundo, a cantora eleita como a Voz do Milênio teve uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo com sua voz, sua força e sua determinação." 


"A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos corações e dos milhares fãs por todo mundo. Feita a vontade de Elza Soares, ela cantou até o fim." 


O corpo da cantora será sepultado no Jardim da Saudade Sulacap, na tarde de sexta-feira (21), depois do velório no Theatro Municipal do Rio. 


Elza Soares: um ícone da música brasileira 


Pedro Loureiro, empresário de Elza, disse ao g1 que a cantora estava bem e tinha gravado um DVD dois dias antes. Ela acordou e fez fisioterapia. Estava com a respiração ofegante, mas garantiu a todos que estava bem. Mas foi ficando mais ofegante e disse aos familiares: "Eu acho que eu vou morrer". 


A declaração acendeu o alerta: os familiares foram checar sua pressão e oxigenação, e notaram uma pequena alteração. Pedro e os familiares chamaram o médico de Elza, que enviou uma ambulância para o local por precaução, mas 40 minutos depois, Elza foi mudando o semblante, até que apagou.

 

"Foi uma morte tranquila, sem traumas, sem motivo. Morreu de causas naturais. Esse, aliás, era um grande medo dela: ter uma morte sofrida, por doença. Hoje, ela simplesmente desligou", conta Pedro. 


Vida difícil 


Elza Gomes da Conceição foi uma das maiores cantoras da música brasileira. Filha de uma lavadeira e de um operário, ela foi criada na favela de Água Santa, subúrbio de Engenho de Dentro. Elza cantava, desde criança, com a voz rouca e o ritmo sincopado dos sambistas de morro. 


Casou-se obrigada aos 12 anos, virou mãe aos 13 e viúva aos 21. Foi lavadeira e operária numa fábrica de sabão. 


A vida não foi fácil com a cantora que carregava lata d'água na cabeça desde a infância. Ela perdeu quatro filhos: dois foram os primeiros filhos de Elza em gestações que aconteceram quando ainda era adolescente. Eles morreram recém-nascidos. 


Garrinchinha, único filho que a cantora teve com o jogador, morreu aos 9 anos em um acidente de carro em 1986, e Gilson faleceu aos 59 anos, em 2015, por complicações de uma infecção urinária. 


Do sambalanço à eletrônica 


Por volta dos 20 anos, Elza fez seu primeiro teste como cantora, na academia do professor Joaquim Negli. Foi contratada para a Orquestra de Bailes Garan e seguiu no Teatro João Caetano. 


Ela começou a se destacar na música como parte da cena do sambalanço com "Se Acaso Você Chegasse", em 1959. 


Nos 35 discos lançados, ela se aproximou do samba, do jazz, da música eletrônica, do hip hop, do funk e dizia que a mistura era proposital. O último disco lançado foi "Planeta Fome", em 2019. 


A expressão era uma alusão ao episódio em que foi constrangida por Ary Barroso no programa de calouros que participou nos anos 50. "De que planeta você vem, menina?", ele disse. E ela respondeu: "Do mesmo planeta que você, seu Ary. Eu venho do Planeta Fome." 


"Eu sempre quis fazer coisa diferente, não suporto rótulo, não sou refrigerante", comparava Elza. "Eu acompanho o tempo, eu não estou quadrada, não tem essa de ficar paradinha aqui não. O negócio é caminhar. Eu caminho sempre junto com o tempo." 


Desde que lançou o álbum "A mulher do fim do mundo", em 2015, a cantora viveu mais uma fase de renascimento artístico. “Me deixem cantar até o fim”, pediu Elza em verso da música que batiza o álbum. 


Começo no samba 


Mais voltada para o samba, a primeira fase da cantora tem discos gravados nos anos 60 com o cantor Miltinho (1928–2014) e o baterista Wilson das Neves (1936–2017). 


Fazem parte desta era lançamentos como "O samba é Elza Soares" (1961), "Sambossa" (1963), "Na roda do samba" (1964) e "Um show de Elza" (1965). 


Outras fases vieram. Nos anos 70, escolheu cantar o samba de ritmo mais tradicional. A fase rendeu sucessos como "Salve a Mocidade" (Luiz Reis, 1974), "Bom dia, Portela" (David Correa e Bebeto Di São João, 1974), "Pranto livre" (Dida e Everaldo da Viola, 1974) e "Malandro" (Jorge Aragão e Jotabê, 1976). 


A cantora amargou período de ostracismo na década de 1980. Em 1983, sofreu com a morte do jogador Garrincha, com quem teve um relacionamento por 17 anos. 


Eles começaram a se relacionar enquanto Garrincha era casado, o que rendeu uma forte crítica pela sociedade e pela imprensa da época. Anos depois, os dois se casaram e a relação foi conturbada, marcada por episódios de violência doméstica. 


Empoderada, Elza se tornou uma das maiores referências no combate à violência contra mulher ao cantar "Maria da Vila Matilde", no álbum "Mulher do Fim do Ano", de 2015. 


Devido a fase de menos sucesso nos anos 80, ela pensou até em desistir da carreira, mas resolveu procurar Caetano Veloso, em hotel de São Paulo, para pedir ajuda. 


O auxílio veio na forma de convite para participar da gravação do samba-rap "Língua", faixa do álbum do cantor, "Velô" (1984). 


Essa participação mostrou a bossa negra de Elza Soares a uma nova geração e abriu caminho para que a cantora lançasse, em 1985, um álbum menos voltado para o samba. "Somos todos iguais" tinha música de Cazuza (1958–1990). 


Em 2002, com direção artística de José Miguel Wisnik, fez um dos álbuns mais modernos da discografia, "Do cóccix até o pescoço". No ano seguinte, foi a vez de "Vivo feliz", mais voltado para a eletrônica. 


Elza seguia fazendo shows até antes da pandemia da Covid-19 e cantou em lives. Ela estava produzindo um novo álbum de estúdio que pode ter lançamento póstumo. 


Nesta semana, ela também se apresentou em shows no Theatro Municipal de São Paulo que foram gravados para o lançamento de um DVD. 


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Empresário conta que Elza Soares falou a familiares em seus últimos momentos: 'Acho que vou morrer' 


Cerca de 40 minutos após a fala, a cantora foi perdendo as forças, fechou os olhos e morreu, segundo Pedro Loureiro: 'Foi uma morte tranquila, sem traumas, sem motivo'. 


Por Eliane Santos, g1 Rio (20/01/2022) 


Um dia que começou como outro qualquer. É assim que Pedro Loureiro, empresário de Elza Soares, descreve os últimos momentos da cantora, que morreu nesta quinta-feira (20) aos 91 anos. 


"Ela estava bem, gravou o DVD no dia 17 e 18 de janeiro. Acordou hoje e fez fisioterapia. Tudo normal. A gente até percebeu um leve cansaço nela, uma respiração mais ofegante, mas achamos que foi por causa da fisio", lembra Pedro. 


Ele conta ainda que depois desse momento, Elza pediu para descansar e começou a apresentar a fala um pouco embolada. O fato chamou atenção de Pedro e de outros familiares que estavam com ela. Mas Elza brigou com eles garantindo que estava bem. 


Um tempo depois, a cantora dirigiu-se aos familiares e disse: "Eu acho que eu vou morrer". 


A declaração acendeu o alerta, e os familiares foram checar sua pressão e oxigenação, e notaram uma pequena alteração. 


Relembre frases marcantes de Elza Soares 


Elza Soares morreu no mesmo dia de Garrincha, quase 40 anos depois 


Ambulância foi chamada 


Pedro e os familiares da cantora chamaram o médico de Elza, que enviou uma ambulância para o local por precaução, mas 40 minutos depois, Elza foi mudando o semblante, até que apagou. 


"Foi uma morte tranquila, sem traumas, sem motivo. Morreu de causas naturais. Esse, aliás, era um grande medo dela: ter uma morte sofrida, por doença. Hoje, ela simplesmente desligou", conta Pedro. 


Velório no Theatro Municipal 


Elza Soares teve a morte atestada por causas naturais e será velada no Theatro Municipal, com cerimônia aberta ao público às 12h – o horário ainda será confirmado. 


O corpo será sepultado no Jardim da Saudade Sulacap, que também fará uma homenagem à cantora na capela VIP. O sepultamento será no setor do Cristo Redentor. 


"Vamos fazer um velório à altura dela, de rainha, para que os fãs possa se despedir dela", disse o empresário. 


Saúde perfeita 


O empresário conta ainda que Elza estava bem, com a saúde perfeita e que estava no melhor momento da vida dela. 


"Seus últimos dias foram de uma rainha. Ela gravou DVD, cantou, estava de casa nova, uma cobertura que ela comprou. Estava superfeliz, superbem e morreu no auge de seus 70 anos de carreira. Com tudo que ela demorou uma vida inteira para conquistar", disse ele, que se emociona ao lembrar a última música cantada por Elza. 


"No DVD, a última música que ela cantou, cantou em vida, foi: 'Me deixem cantar até o fim'", lembra. 


Textos e imagens reproduzidos do site: g1.globo.com 

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