sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Sergio Mendes (1941–2024) morre aos 83 anos...

Legenda da foto: Sergio Mendes (1941 – 2024) morre aos 83 anos, em Los Angeles (EUA), no país onde fez nome, fama e fortuna com som pop tropical calcado na bossa do Brasil — (Crédito da foto:  Katsunari Kawai/Divulgação).

Publicação compartilhada do site G1 GLOBO/POP-ARTE, de 6 de setembro de 2024 

Por Mauro Ferreira - Jornalista carioca que escreve sobre música desde 1987, com passagens em 'O Globo' e 'Bizz'. Faz um guia para todas as tribos

Som exuberante de Sergio Mendes foi a mais completa tradução do suingue brasileiro para os Estados Unidos

Principal embaixador pop da bossa nacional nos anos 1960, pianista fluminense também estourou em escala mundial com balada romântica em 1983 e revitalizou a discografia ao se unir ao rap em 2006.

♪ O som exuberante de Sergio Mendes foi a mais completa tradução da bossa brasileira para o idioma pop norte-americano. A partir de 1966, o pianista, arranjador e compositor fluminense – nascido em Niterói (RJ) – conquistou os Estados Unidos, e por consequência o mundo, com um suingue nacional tipo exportação.

O estopim para o estrelato foi gravação turbinada do samba Mas que nada (Jorge Ben Jor, 1962) que deu início ao reinado de Mendes com o conjunto Brasil’66.

É por isso que a notícia da morte de Sergio Santos Mendes (11 de fevereiro de 1941 – 6 de setembro de 2024), veiculada na manhã de hoje, entristece o universo pop em escala planetária. Sergio Mendes sai de cena aos 83 anos, em Los Angeles (EUA), no país onde fez nome, fama e fortuna.

Em atividade profissional desde 1961, ano em que integrou o Sexteto Bossa Rio, Sergio Mendes foi pela primeira vez aos Estados Unidos em 1962 como integrante do elenco do lendário show que apresentou oficialmente a bossa nova aos Estados Unidos no palco do Carnegie Hall em Nova York (EUA).

O artista voltou ao Brasil logo depois do show, mas, atento aos sinais de desgaste da bossa nova no país natal, decidiu retornar aos EUA e ficar por lá a partir de 1964, ano em que o samba Garota de Ipanema (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962) ganhou o mundo na voz de Astrud Gilberto (1940 – 2023) em gravação feita para álbum do saxofonista de jazz Stan Getz (1927 – 1991) com João Gilberto (1931 – 2019).

Nos Estados Unidos, Sergio Mendes deu forma à própria bossa com um toque latino e seduziu o público norte-americano em 1966 com o álbum Herb Alpert presents Sergio Mendes & Brazil’66, alavancado pela já mencionada abordagem do samba Mas que nada. Desde então, Mendes se tornou uma espécie de embaixador brasileiro da bossa nova e, por extensão, do samba-jazz e do jazz latino.

Dois anos após o estouro de Mas que nada, Mendes conseguiu emplacar outro grande sucesso mundial em 1968, abordando com suingue próprio a canção The fool on the hill (John Lennon e Paul McCartney,1967), lançada pelos Beatles no ano anterior. O mesmo ano de 1967 em que Sergio Mendes injetara bossa na canção The look of love (Burt Bacharach e Hal David, 1967), destaque do álbum Look around (1967) em abordagem repetida ao vivo pelo músico em março de 1968 na cerimônia do Oscar. Estava consolidada a escalada internacional de Sergio Mendes.

Nos áureos anos 1960, a discografia de Sergio Mendes com o grupo Brasil’66 tinha repertório bilíngue em inglês e português. Além das canções norte-americanas e britânicas, havia músicas de compositores brasileiros como Edu Lobo, Gilberto Gil e, claro, Tom Jobim (1927 – 1994). Aliado aos vocais de Lani Hall (de 1966 a 1968) e Gracinha Leporace, parceira de música e vida, o balanço vibrante do pianista era o denominado comum desse variado repertório.

Sergio Mendes atravessou os anos 1970 sem repetir o sucesso da década anterior, mas a agenda internacional nunca ficou vazia. No que diz respeito aos discos, o artista voltou a ficar sob os holofotes mundiais em 1983, ano em que já tinha finalizado álbum de acabamento pop, mas decidiu reabrir o disco para incluir aliciante balada, Never gonna let you go (Barry Mann e Cynthia Well), que lhe chegara aos ouvidos na voz de Joe Pizzulo, cantor norte-americano de ascendência italiana.

A decisão foi sábia. Gravada pelo pianista com a voz de Pizzulo, a balada virou hit planetário e alavancou o álbum Sergio Mendes (1983).

Em discografia de altos e baixos comerciais, cabe destacar o álbum Brasileiro (1992), trabalho revigorante que marcou o encontro de Sergio Mendes com Carlinhos Brown.

Foi nesse álbum Brasileiro que apareceu a música Lua soberana (Ivan Lins e Vitor Martins, 1992), amplificada no Brasil em 1993 na trilha sonora da novela Renascer, na gravação original de Mendes, e revivida neste ano de 2024 nas vozes das cantoras baianas Luedji Luna e Xênia França em gravação feita para a trilha sonora do remake da novela.

Mais tarde, 14 anos após o disco Brasileiro, Sergio Mendes ganhou outra injeção de ânimo na carreira ao se unir ao rapper norte-americano will.i.am no álbum Timeless (2006).

O revival do samba Mas que nada, em esquema novo com o grupo Black Eyed Peas, revitalizou a bossa de Sergio Mendes, pianista que, partindo das águas fluminenses da Baía de Guanabara, exportou o suingue brasileiro para o mundo e se tornou, ele próprio, sinônimo de balanço pop e brasileiro.

Nesse sentido, o som tropical de Sergio Mendes se configurou de fato atemporal, ainda que seja evocativo de uma época, os anos 1960, em que o mundo se voltou para a bossa do Brasil.

Texto e imagem reproduzidos do site:g1 globo com/pop-arte/musica

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