terça-feira, 5 de novembro de 2024

Agnaldo Rayol morre em São Paulo aos 86 anos

Texto compartilhado do site G1 GLOBO SP, de 4 de novembro de 2024 

Agnaldo Rayol morre em São Paulo aos 86 anos

O cantor, Agnaldo Rayol morreu após uma queda em casa, segundo a família. Ele chegou a ser levado ao hospital, mas não resistiu. O velório do artista será a partir das 8h desta terça-feira (5) na Alesp.

Por g1 SP e TV Globo — São Paulo

O cantor Agnaldo Rayol morreu nesta segunda-feira (4), aos 86 anos, em São Paulo. A morte, segundo a família, foi causada por uma queda no apartamento dele na madrugada.

Segundo a assessoria do cantor, Rayol caiu no banheiro e bateu a cabeça, onde teve um grande corte. Ele morava em Santana, na Zona Norte da capital.

O artista foi levado para o Hospital HSANP, mas teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu.

O velório de Agnaldo Rayol será nesta terça (5), na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), e será aberto ao público entre as 8h e as 14h.

O artista será enterrado no Cemitério Gethsêmani, localizado no bairro Morumbi, na Zona Sul da capital. O sepultamento será restrito a familiares e amigos.

Cantor lírico de repertório romântico e popular, Agnaldo Rayol ganhou popularidade nos anos 1960. Em mais de 70 anos de carreira, fez sucesso com gravações de músicas em italiano e religiosas. Também atuou em diversas novelas (leia mais abaixo).

A morte foi comunicada em nota enviada à imprensa pelos familiares.

"É com profundo pesar que comunicamos o falecimento do cantor Agnaldo Rayol [...]. O artista, que marcou gerações com sua voz inconfundível e presença carismática, faleceu após uma queda em seu apartamento nessa madrugada", informou a nota.

"Agnaldo Rayol deixa um legado inestimável para a música brasileira, com uma carreira que atravessou décadas e tocou os corações de milhões de fãs. A família agradece as manifestações de carinho e apoio. Informações sobre o velório e cerimônia de despedida serão divulgadas em breve", diz o texto divulgado pela família.

Casamento

Há mais de 50 anos, Agnaldo Rayol era casado com Maria Gomes. O cantor era discreto em relação ao matrimônio e não tinha o hábito de comentar o assunto em entrevistas.

Segundo a assessoria do artista, Maria sofre de Alzheimer e está bastante debilitada. O casal vivia em uma casa na Zona Norte da capital com uma cuidadora.

REPERCUSSÃO: famosos lamentam morte de cantor aos 86 anos

Mais de 70 anos de carreira

Nascido no Rio de Janeiro em maio de 1938, Agnaldo Coniglio Rayol tinha mais de 70 anos de carreira e construiu a vida artística com repertório romântico e popular.

Neto de italianos da região da Calábria, Rayol tinha uma voz de barítono inesquecível. O auge da carreira dele foi na década de 1960. Naquela época, ele apresentou programas de televisão próprios, como Agnaldo RayoI Show e Corte RayoI Show, ao lado do lendário Renato Corte Real, na TV Record.

Rayol começou a carreira no rádio, mas, além dos trabalhos como apresentador de TV, trabalhou como ator em novelas e no cinema. Ele chegou a protagonizar um filme com seu nome: "Agnaldo, Perigo à Vista", em 1969.

Carreira como ator

Nas telenovelas, Rayol participou de produções como Mãe (1964), O Caminho das Estrelas (1965) e A Última Testemunha (1968), na TV Excelsior, além de As Pupilas do Senhor Reitor (1970), na TV Record. Nos anos 1980, atuou na novela ‘Os Imigrantes (1981)’, na TV Bandeirantes.

Na TV Globo, Rayol brilhou ao cantar canções italianas temas de novelas, como Mia Gioconda, de O Rei do Gado (1996), e Tormento d'Amore, abertura da novela Terra Nostra (1999), gravada em Londres (Inglaterra, em dueto com a soprano Charlotte Church).

Em 1999, venceu o prêmio "Melhores do Ano", da TV Globo, na categoria "Melhor Cantor".

Início da vida artística

Carioca de Bonsucesso, bairro da Zona Norte do Rio, Agnaldo Rayol se mudou ainda na infância para o Rio Grande do Norte.

Aos 8 anos de idade, já cantava em rádios locais. Aos 10, gravou seu primeiro filme.

Em 1956, aos dezoito anos, Rayol voltou para o Rio para tentar carreira como cantor. No ano seguinte, foi contratado pela TV Tupi, de São Paulo.

Primeiro disco gravado em 1958

O primeiro disco veio em seguida, em 1958. E o primeiro sucesso, em 1963, com a música Acorrentados.

Nos anos 1980, outro sucesso na televisão, desta vez na TV Cultura, com o programa Festa Baile. Além das canções em italiano, o cantor ficou muito conhecido pelas interpretações de músicas religiosas.

Elas já faziam parte do repertório do cantor, mas ganharam mais espaço depois que ele apareceu cantando Ave Maria, na novela Rainha Sucata (1990).

Depois disso, o barítono passou a ser chamado para cantar em casamentos de ricos e famosos, e caiu na graça do grande público, cantando canções inesquecíveis como Pai Nosso, Creio em Ti e Panis Angelicus.

Queda em casa

A assessoria de imprensa do cantor informou que após queda no banheiro nesta sexta (4), a família ligou cinco vezes para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), porém a ambulância chegou após cerca de 40 minutos.

Procurada, a Prefeitura de São Paulo lamentou a morte e informou que a Secretaria Municipal da Saúde vai apurar os detalhes do atendimento prestado pelo Samu.

Texto reproduzido do site: g1 globo com/sp

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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Arthur Moreira Lima, pianista, morre aos 84 anos em SC

Legenda da foto: O pianista Arthur Moreira Lima — (Crédito da foto: Música no Museu/Divulgação)

Publicação compartilhada do site G1 GLOBO, de 30 de outubro de 2024 

Arthur Moreira Lima, um dos maiores pianistas brasileiros, morre aos 84 anos

Músico lutava contra um câncer no intestino e estava internado havia duas semanas, em Florianópolis (SC).

Por g1 e GloboNews

Arthur Moreira Lima, pianista, morre aos 84 anos em SC

O pianista Arthur Moreira Lima morreu no início da noite desta quarta-feira (30), aos 84 anos, em Florianópolis (SC). A informação foi confirmada pela família do músico.

Ele estava internado havia duas semanas no Imperial Hospital de Caridade. O músico lutava contra um câncer no intestino descoberto no ano passado.

O velório dele será na quinta-feira (31), entre meio-dia e 16h, no Jardim da Paz, também em Florianópolis. Ele morou na cidade por cerca de 30 anos.

'Pianista brasileiro que mais me emocionou', diz maestro João Carlos Martins

Um dos maiores pianistas brasileiros, Moreira Lima nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 1940.

Arthur Moreira Lima começou a estudar piano aos seis anos de idade. Ele se projetou internacionalmente ao conquistar o segundo lugar na Competição Internacional de Piano Frédéric Chopin, em 1965.

Laureou-se também em várias outras competições, incluindo a prestigiosa Competição Internacional Tchaikovsky, de 1970, ficando em terceiro lugar.

Ele é considerado um grande intérprete de compositores românticos, tais como Chopin e Liszt, e de obras modernistas de compositores como Prokofiev e Villa-Lobos.

Notabilizou-se também como um intérprete da música popular brasileira, gravando Ernesto Nazareth e clássicos do repertório do choro e do samba.

O pianista também trabalhou no projeto "Um piano pela estrada", percorrendo o Brasil em um caminhão que virava palco.

Texto e imagem reproduzidos do site: g1 globo com/pop-arte/musica

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terça-feira, 29 de outubro de 2024

'A hora do adeus', por Luciano Correia

Lá se vão os CDs. "Repare naquela estrada 
que distância nos levará"

O CDs estão prontos para tocarem em outras serenatas


Artigo compartilhado do site SÓ SERGIPE, de 4 de maio de 2023 

A hora do adeus
Luciano Correia*

Algumas coisas na vida são inevitáveis. As perdas, por exemplo. E aqui me entendam por perdas tudo aquilo que um dia vai embora de nossa vida, pelos desígnios de Deus – fica combinado aqui que Deus existe, para evitar debates desnecessários no contexto dessas mal traçadas linhas – ou por imposições outras da lógica, do bom senso, da tecnologia ou pelo simples desaforos da mulher em favor da faxina de todos os seus bens culturais adquiridos em décadas. De minha parte, cumpro o doloroso dever de dizer que chegou a hora de me desfazer das centenas de CDs, calculo em dois ou três mil, por aí, que acumulei ao longo de minha vida musicada pelas ecléticas trilhas do mundo.

A rigor, o CD estreou em minha vida em 1988. O jornalista Ivan Valença, pioneiro de traquitanas eletrônicas para cinema e música na provinciana Aracaju de então, já havia me acenado anos antes com a oferta de compra de um aparelho de videocassete, que ele importara não-sei-de-onde, um equipamento Toshiba com controle remoto por fio e que, nos seus momentos temperamentais, fazia o favor de dar choque, passar corrente elétrica para este involuntário paciente do eletrochoque dos hospitais psiquiátricos. Na conta do bruxo Ivan, fui o quarto proprietário de um VHS da nossa belacap. Com a mesma retórica reluzente, me vendeu aquele que seria um dos primeiros aparelhos de CD que desembarcaram na cidade, no ano fatídico já mencionado.

Comprado o equipamento, fui à Modinha Discos, na rua Laranjeiras, escolher meus três primeiros rebentos: Herbie Hancock, Wayne Shorter e um show ao vivo de Mercedes Sosa no estádio da Bombonera, uma das sete maravilhas da música em todos os tempos.

Fui da geração dos vinis, desde que Papai comprou nossa primeira vitrola em 1970, com um pacote de Lps que incluía Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Jerry Adriani, The Fevers e um disco instrumental da banda do Canecão executando o melhor do carnaval daqueles tempos. Devo ter empregado um importante capital de minhas mesadas na compra dos Alceus, Zé e Elba Ramalho, e coisas raras do que um dia se chamou MPB, raridades hoje calculadas em centenas de reais e que doei a um amigo muitos anos depois. Se me separei dos bolachões sem maiores culpas, assim foi com meu valioso acervo de fitas VHS, dos melhores pornôs a espetáculos em Cuba, futebol e carnaval.

Já com as fitas K-7, maior paixão de minha adolescência/juventude, não foi tão fácil. Despejei no lixo do condomínio algo em torno de 1.500 fitas, aquelas compradas em lojas ou cópias de álbuns que eu já possuía em LP ou CD. A razão é simples: as fitas são obras autorais, nas quais o ouvinte imprime seus gostos pessoais, com a novidade de gravar suas preferidas, uma curadoria musical, enfim. Para além disso, há tesouros que ninguém dá valor, mas que a mim soam caros: gravações da programação noturna das emissoras de rádio de São Paulo, Havana ou São Luís do Maranhão, lugares por onde passei com tempo suficiente para prestar atenção nas maravilhas que tocavam no rádio. Ou ainda, os emocionantes gols da minha Associação Olímpica de Itabaiana. Hoje o rádio é business e cultura pop. Pra quem gosta, excelente. Para os que buscam diversidade, acabou.

Mas, enfim, com tantas plataformas de streaming e pen drives na praça, ficou trabalhoso recorrer aos meus queridos Compact Discs. Resisti por anos porque não achava uma alma digna de entrar nessa morada musical, que para mim representa afetos e histórias, mas, como tudo na vida, o dia D chega para todos. Nessa semana, comecei a embalar meus filhos queridos, ainda me enganando com a remota possibilidade de que ficarei com alguns para ouvir no meu último aparelho de CD, uma geringonça que arranquei do meu penúltimo carro e adaptei para ouvir em casa, a peso de ouro, num malandreco de Itabaiana. Vocês imaginam o que é descartar cerca de uns 30 discos só de Caetano Veloso, outros tantos do esplendoroso Gil, mais as obras completas de Chico, com Ópera do Malandro e coisas que tais?

Depositar numa caixa de papelão do G. Barbosa as relíquias que garimpei de Tom Waits, a voz maviosa e apaixonante de Paloma San Basílio, trilha de amores cubanos na minha temporada por lá, ou os clássicos que aprendi a ouvir e gostar no programa de Petrônio Gomes: Dvorák, Carmina Burana e a Valsa dos Patinadores. Tirá-los de minha convivência de décadas e despachá-los para entrega, é como expulsar de casa o canto de Geraldo Azevedo nas noites do Clube da Sexta, no DCE da UFS, ou enxotar friamente de nossa intimidade a doçura da dupla Elza Soares/Miltinho executando um dos melhores discos da história da música brasileira.

Fiquei com pena das caixas com as obras quase completas de Ray Charles e Nat King Kole, esse cantor estupendo que conheci através de Papai. E o songbook de Dorival Caymmi, os mais de 30 exemplares da turma da Buena Vista Social Club e outros expoentes da música caribenha? Em 1998 eu caminhava pelas ruas da cidade do Porto, em Portugal, quando um som simplesmente enlouquecedor inebriou a rua e acariciou meus ouvidos. Entrei na loja e perguntei quem cantava. Era um negro americano chamado Ben Harper, mandando a comovente Suzie Blue, um desses sons que nos arrebatam pela vida inteira em fração de segundos. Comprado por uma pequena fortuna em euros, é um dos mantras sagrados que será levado para doação. Como dizia Belchior, meu coração é como um vidro. Está partido de tanta saudade.
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* Jornalista e presidente da Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju).

Texto e imagens reproduzidos do site: www sosergipe com br

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Sergio Mendes (1941–2024) morre aos 83 anos...

Legenda da foto: Sergio Mendes (1941 – 2024) morre aos 83 anos, em Los Angeles (EUA), no país onde fez nome, fama e fortuna com som pop tropical calcado na bossa do Brasil — (Crédito da foto:  Katsunari Kawai/Divulgação).

Publicação compartilhada do site G1 GLOBO/POP-ARTE, de 6 de setembro de 2024 

Por Mauro Ferreira - Jornalista carioca que escreve sobre música desde 1987, com passagens em 'O Globo' e 'Bizz'. Faz um guia para todas as tribos

Som exuberante de Sergio Mendes foi a mais completa tradução do suingue brasileiro para os Estados Unidos

Principal embaixador pop da bossa nacional nos anos 1960, pianista fluminense também estourou em escala mundial com balada romântica em 1983 e revitalizou a discografia ao se unir ao rap em 2006.

♪ O som exuberante de Sergio Mendes foi a mais completa tradução da bossa brasileira para o idioma pop norte-americano. A partir de 1966, o pianista, arranjador e compositor fluminense – nascido em Niterói (RJ) – conquistou os Estados Unidos, e por consequência o mundo, com um suingue nacional tipo exportação.

O estopim para o estrelato foi gravação turbinada do samba Mas que nada (Jorge Ben Jor, 1962) que deu início ao reinado de Mendes com o conjunto Brasil’66.

É por isso que a notícia da morte de Sergio Santos Mendes (11 de fevereiro de 1941 – 6 de setembro de 2024), veiculada na manhã de hoje, entristece o universo pop em escala planetária. Sergio Mendes sai de cena aos 83 anos, em Los Angeles (EUA), no país onde fez nome, fama e fortuna.

Em atividade profissional desde 1961, ano em que integrou o Sexteto Bossa Rio, Sergio Mendes foi pela primeira vez aos Estados Unidos em 1962 como integrante do elenco do lendário show que apresentou oficialmente a bossa nova aos Estados Unidos no palco do Carnegie Hall em Nova York (EUA).

O artista voltou ao Brasil logo depois do show, mas, atento aos sinais de desgaste da bossa nova no país natal, decidiu retornar aos EUA e ficar por lá a partir de 1964, ano em que o samba Garota de Ipanema (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962) ganhou o mundo na voz de Astrud Gilberto (1940 – 2023) em gravação feita para álbum do saxofonista de jazz Stan Getz (1927 – 1991) com João Gilberto (1931 – 2019).

Nos Estados Unidos, Sergio Mendes deu forma à própria bossa com um toque latino e seduziu o público norte-americano em 1966 com o álbum Herb Alpert presents Sergio Mendes & Brazil’66, alavancado pela já mencionada abordagem do samba Mas que nada. Desde então, Mendes se tornou uma espécie de embaixador brasileiro da bossa nova e, por extensão, do samba-jazz e do jazz latino.

Dois anos após o estouro de Mas que nada, Mendes conseguiu emplacar outro grande sucesso mundial em 1968, abordando com suingue próprio a canção The fool on the hill (John Lennon e Paul McCartney,1967), lançada pelos Beatles no ano anterior. O mesmo ano de 1967 em que Sergio Mendes injetara bossa na canção The look of love (Burt Bacharach e Hal David, 1967), destaque do álbum Look around (1967) em abordagem repetida ao vivo pelo músico em março de 1968 na cerimônia do Oscar. Estava consolidada a escalada internacional de Sergio Mendes.

Nos áureos anos 1960, a discografia de Sergio Mendes com o grupo Brasil’66 tinha repertório bilíngue em inglês e português. Além das canções norte-americanas e britânicas, havia músicas de compositores brasileiros como Edu Lobo, Gilberto Gil e, claro, Tom Jobim (1927 – 1994). Aliado aos vocais de Lani Hall (de 1966 a 1968) e Gracinha Leporace, parceira de música e vida, o balanço vibrante do pianista era o denominado comum desse variado repertório.

Sergio Mendes atravessou os anos 1970 sem repetir o sucesso da década anterior, mas a agenda internacional nunca ficou vazia. No que diz respeito aos discos, o artista voltou a ficar sob os holofotes mundiais em 1983, ano em que já tinha finalizado álbum de acabamento pop, mas decidiu reabrir o disco para incluir aliciante balada, Never gonna let you go (Barry Mann e Cynthia Well), que lhe chegara aos ouvidos na voz de Joe Pizzulo, cantor norte-americano de ascendência italiana.

A decisão foi sábia. Gravada pelo pianista com a voz de Pizzulo, a balada virou hit planetário e alavancou o álbum Sergio Mendes (1983).

Em discografia de altos e baixos comerciais, cabe destacar o álbum Brasileiro (1992), trabalho revigorante que marcou o encontro de Sergio Mendes com Carlinhos Brown.

Foi nesse álbum Brasileiro que apareceu a música Lua soberana (Ivan Lins e Vitor Martins, 1992), amplificada no Brasil em 1993 na trilha sonora da novela Renascer, na gravação original de Mendes, e revivida neste ano de 2024 nas vozes das cantoras baianas Luedji Luna e Xênia França em gravação feita para a trilha sonora do remake da novela.

Mais tarde, 14 anos após o disco Brasileiro, Sergio Mendes ganhou outra injeção de ânimo na carreira ao se unir ao rapper norte-americano will.i.am no álbum Timeless (2006).

O revival do samba Mas que nada, em esquema novo com o grupo Black Eyed Peas, revitalizou a bossa de Sergio Mendes, pianista que, partindo das águas fluminenses da Baía de Guanabara, exportou o suingue brasileiro para o mundo e se tornou, ele próprio, sinônimo de balanço pop e brasileiro.

Nesse sentido, o som tropical de Sergio Mendes se configurou de fato atemporal, ainda que seja evocativo de uma época, os anos 1960, em que o mundo se voltou para a bossa do Brasil.

Texto e imagem reproduzidos do site:g1 globo com/pop-arte/musica

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domingo, 17 de dezembro de 2023

Carlos Lyra, cantor e compositor da bossa nova, morre aos 90

Legenda da foto: Carlos Lyra — Foto: Divulgação

Publicação compartilhada do site G1 GLOBO RIO, de 16 de dezembro de 2023  

Carlos Lyra, cantor e compositor da bossa nova, morre aos 90 anos

Melodista foi internado na quinta-feira (14) com um quadro de febre, no Rio. Lyra foi parceiro de Vinicius de Moraes, Ronaldo Bôscoli e outros artistas. Produziu grandes sucessos, como 'Coisa mais linda', 'Minha namorada', 'Primavera', 'Sabe você' e 'Você e eu'. Causa da morte não foi informada.

Por g1 Rio

O cantor e compositor Carlos Lyra, parceiro de Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Ronaldo Bôscoli e outros artistas, morreu na madrugada deste sábado (16), no Rio. A informação foi confirmada pela família.

Autor de sucessos como 'Coisa mais linda', 'Minha namorada', 'Primavera', 'Sabe você' e 'Você e eu', Lyra era um dos melodistas mais inspirados da música brasileira em todos os tempos.

Segundo a mulher dele, Magda Pereira Botafogo, o compositor de 90 anos foi internado com um quadro de febre na quinta-feira (14) no Hospital da Unimed, na Barra da Tijuca. Após alguns exames, foi detectada uma bactéria. A causa da morte ainda é desconhecida.

Revelado em disco na voz de Sylvia Telles (1935 – 1966), cantora que gravou Menino em 1956, Lyra foi um dos compositores do movimento rotulado como bossa nova.

O artista deixa a sua marca na história da música brasileira e um repertório de 196 obras musicais e 355 gravações cadastradas no banco de dados da gestão coletiva no Brasil.

O corpo do músico será velado no domingo (17), das 10h às 14h, no Memorial do Carmo, no Caju. A cerimônia será restrita a familiares e amigos.

Além de músico consagrado, o melodista carioca também desempenhou um papel fundamental na difusão da cultura brasileira. Lyra foi um dos responsáveis por fundar o Centro Popular de Cultura, o CPC, da União Nacional dos Estudantes, em 1961.

Carreira

A primeira composição de Lyra a ser lançada foi "Menino", gravada na voz de Sylvia Telles, em 1956. Em 1959, ele lança seu primeiro álbum, intitulado "Bossa nova". No mesmo ano, João Gilberto grava "Maria ninguém" e "Lobo bobo", da parceria de Lyra com Ronaldo Bôscoli.

A faixa "Coisa mais linda", composição de Lyra e de Vinicius de Moraes, foi lançada em 1961. A dupla também criou "Marcha da quarta-feira de cinzas" (1963), "Minha namorada" (1964), Primavera (1964) e "Sabe você" (1964).

Lyra também demonstrou sua ideologia social e política ao compor a trilha sonora da peça "A mais valia vai acabar, seu Edgar" (1960), do dramaturgo e diretor paulistano Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha.

Anos depois, o cantor renovou seu repertório em álbuns como "Eu & elas" (1972) e "Herói do medo" (1975). Nos anos 1980, ele aderiu a regravações de clássicos da bossa nova e teria novas parcerias com artistas como Joyce Moreno e Paulo César Pinheiro.

Lyra ainda gravou outros trabalhos de músicas inéditas, como "Carioca de algema" (1994) e "Além da bossa" (2019). Em 2023, grandes nomes da MPB homenagearam o artista no álbum coletivo "Afeto".

Texto e imagens reproduzidos do site: g1 globo com/rio-de-janeiro

sexta-feira, 21 de julho de 2023

Morre Tony Bennett, ícone da música romântica americana

Legenda da foto: Tony Bennett recebe o Grammy de Melhor Performance Vocal Pop Tradicional por 'Tony Bennett on Holiday', em 25 de fevereiro de 1998, em Nova York — (Crédito da foto: Matt Campbell/AFP/Arquivo)

Publicação compartilhada do site G1 GLOBO, de 21 de julho de 2023

Tony Bennett, ícone da música romântica americana, morre aos 96 anos

Causa da morte não foi informada, no entanto, o artista foi diagnosticado com Alzheimer em 2016.

Por g1

O cantor Tony Bennett, ícone da música romântica americana, morreu aos 96 anos. A informação foi confirmada por sua representante, Sylvia Weiner, nesta sexta-feira (21). O cantor completaria 97 anos no dia 3 de agosto.

"Realmente é uma das maiores vozes masculinas de todos os tempos", diz Mauro Ferreira sobre Tony Bennett

Bennett é conhecido por suas canções tradicionais da música romântica americana como "I Left My Heart In San Francisco", e ganhou admiradores que vão de Frank Sinatra a Lady Gaga. Ele lançou mais de 70 álbuns e ganhou mais de 19 prêmios Grammy.

Sylvia não especificou a causa da morte, no entanto, ele foi diagnosticado com Alzheimer em 2016. Sua última aparição em uma apresentação ao vivo foi em agosto de 2021, ao lado de Lady Gaga, no Radio City Music Hall, em Nova York, no show "One Last Time".

O artista começou sua carreira no início da década de 1950 e mostrou o talento com a voz forte e cheia de personalidade. Crooner à moda antiga, ele cantou faixas como "Because of You", "Rags to Riches" e "The Good Life". Com "Because of You", Tony ficou por 10 semanas no topo da lista de singles da Billboard.

Entre seus últimos trabalhos estão duetos com nomes clássicos e contemporâneos da música. Em março de 2011, Bennett gravou com Amy Winehouse o single "Body and soul" nos estúdios Abbey Road, em Londres. A parceria entrou no disco "Duets 2". Ele foi o último artista a trabalhar com Amy antes da sua morte prematura aos 27 anos.

Com esse disco de parcerias, Bennett ocupou pela primeira vez na carreira o topo da lista dos mais vendidos da "Billboard". O álbum teve 179 mil cópias vendidas na primeira semana, segundo a publicação.

O cantor também gravou dois discos com Lady Gaga, "Cheek to Cheek", de 2014, e "Love for Sale", em 2021. Com o primeiro, ele quebrou o próprio recorde ao se tornar o artista mais velho a emplacar um disco no topo da Billboard 200.

O álbum apresenta Bennett e Gaga cantando clássicos como "Anything goes" e "Let's face the music and dance", e chegou a vender 131 mil cópias na primeira semana de lançamento. Os dois se apresentaram juntos na cerimônia do Grammy em 2015. Na premiação, eles ainda venceram a categoria de Melhor Álbum Vocal Pop Tradicional.

Em 2021, Gaga falou sobre a parceria com Bennett e o segundo convite que recebeu do cantor: "Sempre fico honrada em cantar com meu amigo Tony, então é claro que aceitei o convite".

Bennett também trabalhou em colaboração com Diana Krall, Michael Bublé, Carrie Underwood, Beyoncé, entre outros artistas. Em 2012, ele lançou "Viva duets", álbum bilíngue com artistas latino-americanos como Gloria Estefan, Thalía e as brasileiras Maria Gadú e Ana Carolina.

O cantor conversou com o g1, em 2012, quando passou pelo país em turnê, aos 86 anos. Na época, ele dizia que não pensava em se aposentar. "Bem, amo ir no Brasil e tive sorte de estar no país quando a bossa nova começou a virar moda. Eu imediatamente reconheci que seria um poderoso gênero musical", disse na época.

Texto e imagem reproduzidos do site: g1globo.com

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Morre João Donato, multi-instrumentista e ícone da MPB

O pianista acreano João Donato — Foto: Cristina Granato

Publicação compartilhada do G1 GLOBO, de 17 de julho de 2023  

João Donato, multi-instrumentista e ícone da MPB, morre no Rio aos 88 anos

A informação foi confirmada pela família do músico. Pianista, acordeonista, arranjador, cantor e compositor nasceu em 1934 em Rio Branco, no Acre.

Por Roberta Pennafort, TV Globo

Morreu na madrugada desta segunda-feira (17), no Rio de Janeiro, o pianista, acordeonista, arranjador, cantor e compositor João Donato. A informação foi confirmada pela família do músico.

Donato estava internado na Casa de Saúde São José, na Zona Sul do Rio, e a causa da morte foi pneumonia.

“Hoje o céu dos compositores amanheceu mais feliz: João Donato foi para lá tocar suas lindas melodias”, anunciaram as redes sociais dele. “Agora, sua alegria e seus acordes permanecem eternos por todo o universo.”

O velório será nesta terça-feira (18) no Theatro Municipal do Rio, em horário a confirmar. O corpo será cremado na sequência no Memorial do Carmo.

O compositor tinha problemas no pulmão e no coração, e vinha com um quadro de sepse havia semanas, tendo sido intubado.

Piano sincopado e fusão de gêneros

João Donato tinha 74 anos de carreira. Sua música, universal, tinha o suingue no DNA. O piano sincopado era único, inconfundível. Eram suas marcas a criatividade, a inquietude e a paixão pela mistura de diferentes gêneros musicais, como jazz, samba, funk e ritmos latinos.

Aos 88 anos, não parava: compunha, fazia shows e gravava discos. Donato não cessou nem durante a pandemia da Covid-19, quando participou do lançamento digital do álbum “Jazz is Dead”, em parceria com músicos de Los Angeles.

Em 2021, lançou, com o parceiro Jards Macalé, o disco "Síntese do lance", com inéditas. A capa estampa a irreverência da dupla: eles posaram sem blusa, como se estivessem pelados, com plantas à frente.

João Donato é tido como um precursor da Bossa Nova pelos próprios bossanovistas. O compositor Marcos Valle conta que Tom Jobim, também pianista e o mestre de todos, dizia que era Donato seu professor.

Ele trabalhou com artistas como Astrud Gilberto, Dorival Caymmi, Tom Jobim, Eumir Deodato, Stan Kenton, Nelson Riddle, Herbie Mann e Wes Montgomery. O letrista mais constante foi seu irmão, Lysias Enio.

Entre as composições mais conhecidas, estão "A paz", com Gilberto Gil, "A rã", com Caetano Veloso, e "Simples carinho", com Abel Silva.

Do Acre para o mundo

João Donato de Oliveira Neto nasceu em 1934 em Rio Branco, no Acre. A família era musical: a irmã mais velha, Eneyda, estudava piano. Já o irmão caçula, Lysias Ênio, tinha paixão pela poesia e veio a compor a maior parte das letras de composições do artista.

O gosto pelas melodias e o ritmo foi demonstrado desde cedo. Na infância, ele costumava brincar de música com flautinhas de bambu e panelas. Depois, recebeu de presente um acordeom de oito baixos e, mais tarde, um instrumento maior.

Em 1945, mudou-se para o Rio de Janeiro com a família. Na cidade, começou a tocar em festas do colégio onde estudava. Em uma delas, conheceu o grupo Namorados da Lua e fez amizade com Lúcio Alves, Nanai e Chicão.

Quatro anos depois, já atuava em jam-sessions realizadas na casa de Dick Farney e no Sinatra-Farney Fan Club, do qual era membro.

Iniciou sua carreira profissional em 1949, como integrante do grupo Altamiro Carrilho e Seu Regional. Dois anos depois, começou a estudar piano.

Em 1953, formou seu próprio grupo, Donato e Seu Conjunto, e fez parte do grupo Os Namorados. No ano seguinte, formou o Trio Donato.

Em 1956, mudou-se para São Paulo, onde atuou como pianista do conjunto Os Copacabanas e na Orquestra de Luís Cesar e gravou o primeiro LP: “Chá dançante”, produzido por Tom Jobim.

Em 1958, voltou para o Rio de Janeiro e passou a dedicar-se ao piano. Em 1959, viajou para o México com Nanai e Elizeth Cardoso. Em seguida, transferiu-se para os Estados Unidos, onde residiu durante três anos. Nesse país, atuou com Carl Tjader, Johnny Martinez, Tito Puente e Mongo Santa Maria. Donato também excursionou com João Gilberto pela Europa. Em 1962, voltou para o Brasil, casado com a atriz norte-americana Patricia del Sasser.

Em 1963, retornou aos Estados Unidos, onde viveu por mais dez anos.

Lá gravou o disco mais cultuado de sua longa e exitosa trajetória: "A bad Donato" (1970), listado como um dos melhores da música brasileira. O segundo mais citado é "Quem é quem" (1973).

Donato era múltiplo. Como arranjador, destacam-se entre seus trabalhos os CDs “O homem de Aquarius”, de Tom Jobim, e “Minha saudade”, de Lisa Ono, além de discos de Fagner, Gal Costa e Martinho da Vila.

Prêmios

Em 2000, foi contemplado com o Prêmio Shell de Música pelo conjunto da obra e participou do Free Jazz Festival (RJ), obtendo sucesso de público e crítica.

Em 2003, ganhou o Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte).

Em 2004, foi contemplado com o Prêmio Tim pelo disco “Emílio Santiago encontra João Donato”.

Texto e imagem reproduzidos do site: g1 globo com/rj/rio-de-janeiro

quarta-feira, 10 de maio de 2023

Rita Lee, rainha do rock brasileiro, morre aos 75 anos

Texto compartilhado do site G1 GLOBO/POP & ARTE/MÚSICA, de 9 de maio de 2023 

Rita Lee, rainha do rock brasileiro, morre aos 75 anos

Uma das maiores cantoras e compositoras da história do Brasil, ela morreu nesta segunda (8). Rita foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2021 e vinha fazendo tratamentos contra doença.

Por g1

Rita Lee, uma das maiores cantoras e compositoras da história da música brasileira, morreu nesta segunda-feira (8), aos 75 anos. Ela foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2021 e vinha fazendo tratamentos contra a doença.

A família da cantora divulgou um comunicado nas redes sociais dela: "Comunicamos o falecimento de Rita Lee, em sua residência, em São Paulo, capital, no final da noite de ontem, cercada de todo o amor de sua família, como sempre desejou". O velório será aberto ao público, no Planetário do Parque Ibirapuera, na quarta-feira (10), das 10h às 17h.

Rita, a padroeira da liberdade

Rita ajudou a incorporar a revolução do rock à explosão criativa do tropicalismo, formou a banda brasileira de rock mais cultuada no mundo, os Mutantes, e criou canções na carreira solo com enorme apelo popular sem perder a liberdade e a irreverência.

Sempre moderna, Rita foi referência de criatividade e independência feminina durante os quase 60 anos de carreira. O título de “rainha do rock brasileiro” veio quase naturalmente, mas ela achava “cafona” - preferia “padroeira da liberdade”.

Rita Lee Jones nasceu em São Paulo, em 31 de dezembro de 1947. O pai, Charles Jones, era dentista e filho de imigrantes dos EUA. A mãe, a italiana Romilda Padula, era pianista, e incentivou a filha a estudar o instrumento e a cantar com as irmãs. 

Aos 16 anos, Rita integrou um trio vocal feminino, as Teenage Singers, e fez apresentações amadoras em festas de escolas. O cantor e produtor Tony Campello descobriu as cantoras e as chamou para participar de gravações como backing vocals.

Os Mutantes

Em 1964 ela entrou em um grupo de rock chamado Six Sided Rockers que, depois de algumas mudanças de formações e de nomes, deu origem aos Mutantes em 1966. O grupo foi formado inicialmente por Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. 

Eles foram fundamentais no tropicalismo, ao unir a psicodelia aos ritmos locais, e se tornaram o grupo brasileiro com maior reconhecimento entre músicos de rock do mundo, idolatrados por Kurt Cobain, David Byrne, Jack White, Beck e outros.

O trio acompanhou Gilberto Gil em “Domingo no parque” no 3º Festival de Música Popular Brasileira da Record, em 1967, e Caetano Veloso em “É proibido proibir” no 3º Festival Internacional da Canção, da Globo em 1968, dois marcos da tropicália.

Os Mutantes também participaram do álbum “Tropicália ou Panis et Circensis”, de 1968, a gravação fundamental do movimento. 

Ela fez parte dos Mutantes no período mais relevante e criativo da banda, de 1966 a 1972. Gravou “Os Mutantes” (68), “Mutantes” (69), “A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado” (70), “Jardim Elétrico” (71) e “Mutantes e Seus Cometas no País dos Bauretz” (72).

O fim do relacionamento com Arnaldo Baptista coincidiu com a saída dela dos Mutantes. O primeiro álbum solo foi “Build up”, ainda antes de deixar a banda, em 1970. Ela também lançou “Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida”, em 1972, ainda gravado com o grupo.

A carreira solo

A carreira pós-Mutantes tomou forma com o grupo Tutti Frutti, no qual ela gravou cinco álbuns, com destaque para “Fruto proibido”, de 1975, que tinha a música “Agora só falta você”.

A partir de 1979, ela começou a trabalhar em parceria com o marido Roberto de Carvalho, e se firmou de vez na carreira solo. Ela escreveu e gravou canções de pop rock com grande sucesso.

Um dos álbuns mais bem sucedidos foi “Rita Lee”, de 1979, com “Mania de Você”, “Chega mais” e “Doce Vampiro”. No disco de mesmo título do ano seguinte, ela segue na direção mais pop e faz ainda mais sucesso com “Lança perfume” e “Baila comigo”. 

Ela era uma roqueira popular antes e depois de o gênero se tornar um fenômeno comercial no Brasil em meados dos anos 80. Entre os álbuns de destaque estiveram “Saúde” (1981) e “Rita e Roberto” (1985), com o qual os dois subiram ao palco do primeiro Rock in Rio. 

Por volta de 1991, ela começou um período de quatro anos separada de Roberto de Carvalho. O retorno foi em 1995, na turnê do álbum “A marca da Zorra”, quando ela também abriu os shows dos Rolling Stones no Brasil. No ano seguinte, eles se casaram no civil após 20 anos juntos. 

Em 1996, ela caiu da varanda do seu sítio, sob efeito de remédios, e quebrou o recôndito maxilar. Rita começou a tentar largar o álcool e as drogas, mas disse ao “Fantástico” que só conseguiu fazer isso em janeiro de 2006. 

Em 2001, RIta Lee ganhou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa com “3001”. Ela ainda teria mais cinco indicações ao prêmio, e receberia em 2022 o prêmio de Excelência Musical pelo conjunto da obra.

Em 2012, ela anunciou que deixaria de fazer shows por causa da fragilidade física. “Me aposento dos shows, mas da música nunca”, ela escreveu no Twitter. 

Em 28 de janeiro daquele ano, no Festival de Verão de Sergipe, ela fez o show anunciado como último da carreira, quando ela discutiu com um policial. Ela foi acusada de desacato à autoridade, levada à delegacia e liberada em seguida. 

Rita Lee realmente nunca mais fez uma turnê. Mas ainda fez um show no Distrito Federal no fim de 2012, em que abaixou a calça para o público, e cantou no aniversário de São Paulo em 2013, ovacionada pelo público de sua cidade.

Seu último álbum de canções inéditas em estúdio saiu em abril de 2012. “Reza” era, então, seu primeiro trabalho de inéditas em nove anos. A faixa-título foi a música de trabalho, definida por ela como “reza de proteção de invejas, raivas e pragas”.

Ao todo foram 40 álbuns, sendo 6 dos Mutantes, 34 na carreira solo.

Livros e autobiografias

Em 2016, ela lançou “Rita Lee: uma autobiografia”. Uma das revelações do livro foi que ela foi abusada sexualmente aos seis anos de idade por um técnico que foi consertar uma máquina de costura de sua mãe em casa.

No livro, um sucesso de vendas, ela também falou com sinceridade sobre episódios da carreira, como quando foi expulsa dos Mutantes em 1972, e da vida pessoal, como a luta contra o alcoolismo.

Além da autobiografia, Rita Lee tem uma longa trajetória como escritora. A série “Dr. Alex” é de 1983, mas foi relançada em 2019 e 2020 e tem foco na luta pela causa animal e ambiental da cantora. Em março de 2023, ela anunciou "Outra Autobiografia", que está em pré-venda.

Ela também escreveu “Amiga Ursa: Uma história triste, mas com final feliz” na literatura infantil. “FavoRita”, “Dropz”, “Storynhas” e “Rita Lírica” são outros livros escritos pela cantora.

Na TV, Rita participou das novelas “Top Model”, “Malu Mulher”, “Vamp” e “Celebridade” em participações especiais.

Diagnóstico de câncer

Em maio de 2021, Rita Lee foi diagnosticada com câncer de pulmão. Ela seguiu tratamentos de imunoterapia e radioterapia.

Quatro meses depois, ela lançou o último single da carreira, “Changes”, em parceria com o marido Roberto de Carvalho e o produtor Gui Boratto.

Em abril de 2022, seu filho Beto Lee escreveu que ela estava curada do câncer.

Nos últimos anos, ela viveu em um sítio no interior de São Paulo com a família. Ela deixa três filhos: Roberto, João e Antônio.

Texto e imagem reproduzidos do site g1 globo com

sexta-feira, 28 de abril de 2023

O brasileiro que tem 5 milhões de discos de vinil (e quer mais)


Zero Freitas não ouviu todos os seus discos: 
os cinco milhões que tem, talvez apenas cerca de 20 mil.

Apenas meio milhão de discos de Freitas são brasileiros.

Freitas garante que tem espaço para dez milhões de discos.

Estudantes de história trabalham como estagiários
 catalogando o acervo de Freitas.

Um dos objetivos de Freitas é disponibilizar seu catálogo 
na internet para quem quiser acessar seus discos gratuitamente.

Legenda da foto: Além de digitalizar seus discos de vinil, Freitas possui cerca de 100 mil CDs - (Crédito das fotos: Helena Chamone)

Publicação compartilhada do site BBC NEWS, de 28 de agosto de 2014

O brasileiro que tem 5 milhões de discos de vinil (e quer mais)

Elaboração BBC Mundo

Quem já quis ouvir um disco que nunca teve deve se colocar no lugar de Zero Freitas, que tem um problema muito maior: o disco de Tom Jobim que procura está perdido em sua coleção de milhões de vinis.

“Tenho esse disco”, diz o brasileiro de 60 anos, aludindo a um exemplar do génio musical do seu país, autografado no dia do lançamento. "Mas não consigo encontrá-lo."

É possível que esteja em algum recanto dos enormes armazéns paulistas onde Freitas guarda o que talvez seja a maior coleção de discos de vinil do mundo.

Mas longe de se preocupar com o disco perdido ou com todos os discos que ainda não catalogou, Freitas pensa em ampliar o acervo que, segundo ele, já soma mais de cinco milhões de unidades.

"Tenho espaço para o dobro disso", diz em entrevista à BBC Mundo. E faz isso como se fosse apenas uma questão de acomodar algumas maçãs em uma grande fruteira.

Zero Freitas não ouviu todos os seus discos: dos cinco milhões que tem, talvez apenas cerca de 20 mil.

De Barco

Freitas conta que desde pequeno colecionava coisas diversas, como recortes de jornal ou livros, e que aos 12 anos começou a colecionar discos de vinil. Aos 18 fui às lojas e comprei dezenas de discos juntos.

Mas foi na virada do século - quando seu acervo já somava cerca de 100 mil unidades - que ele descobriu o site de compras na internet eBay e acessou um mercado que jamais imaginou estar ao seu alcance.

Ele também notou que, no auge da mania do CD, havia pessoas no primeiro mundo procurando se livrar de lotes de CDs antigos que guardavam há anos.

Dinheiro não era um grande problema para Freitas, sócio e diretor comercial de uma empresa familiar de ônibus em São Paulo. Diz que a sua paixão pelos registos é financiada com as transações imobiliárias que costuma realizar.

Assim, por exemplo, ele chegou a um acordo com um ex-comerciante de música da cidade americana de Pittsburgh chamado Paul Mawhinney, que afirmava ter a maior coleção de vinis do mundo e queria vendê-la. Freitas o adquiriu.

Mas, segundo ele diz, boa parte do que tem recebido também são doações gratuitas, principalmente dos Estados Unidos. O custo de recolhê-los de caminhão em casa, levá-los ao porto e despachá-los para o Brasil é de cerca de 20 centavos de dólar por disco.

Hoje tem até cópias de música japonesa ou de discursos de Hitler (que, esclarece, nunca o interessaram) e calcula que dois terços dos seus discos de vinil não têm valor comercial, mas o resto teria um preço se pretendesse vendê-lo.

Ele calcula que o valor médio de cada disco pode chegar a um real. Toda a sua coleção valeria então quase US$ 2,2 milhões, mas Freitas nega que seu plano seja fazer negócios.

"Eu nunca vendi um disco", diz ele.

Música e terapia

Freitas é cauteloso ao avaliar se sua coleção é a maior do mundo. "Eu não posso dizer isso", diz ele. "Acho que tem muita gente com milhões de discos que nem divulga."

Quase 90% das que tem são estrangeiras e apenas 500 mil são brasileiras.

Ele diz que as ofertas não param de vir de fora. Por exemplo, depois de um artigo recente publicado sobre ele pelo The New York Times, ele recebeu um e-mail da biblioteca de Paris pedindo-lhe para doar 5.000 discos repetidos de música clássica.

"Hoje eu tenho esse problema", reflete. "Eu tenho que pegar um caminhão em Paris."

Ele conta ainda que há muito tempo parou de "caçar" exemplares raros no mercado e agora sua prioridade é ampliar seu acervo de discos brasileiros.

Ele fez um convênio com a universidade para que alunos de história trabalhem como estagiários catalogando seu acervo, em ordem cronológica, de acordo com a data de chegada ao depósito.

E pretende criar um instituto sem fins lucrativos, que colocará o catálogo na internet para quem quiser acessar um determinado registro gratuitamente, com interesse profissional ou pessoal.

Ele aponta que uma dificuldade é que o Brasil não tem o costume de doar que existe em outros lugares.

Mas ele garante que depois de anos de terapia que faz desde a adolescência, aprendeu a ter uma relação equilibrada com seus discos.

“Trabalho para não ser escravo deles”, esclarece. "Porque se não, você tem um problema de saúde física e mental."

Questionado sobre qual álbum gostaria de ter que está faltando, ele cita a edição em inglês de "London London", do cantor e compositor brasileiro Caetano Veloso.

Mas na hora de definir seu disco preferido, ele fala de Bidu Sayão - soprano brasileiro falecido em 1999 - cantando peças de Heitor Villa-Lobos. “Eu a escuto e choro”, admite Freitas.

No entanto, ele estima ter ouvido apenas uma pequena fração de sua coleção: 20.000 discos, talvez?

Hoje à noite ele diz que em sua casa vai tocar um da cantora brasileira Zélia Duncan, mas em CD porque nunca foi lançado em vinil. E Freitas também não parece fundamentalista: afirma também possuir quase 100 mil CDs.

Um dos objetivos de Freitas é disponibilizar seu catálogo na internet para quem quiser acessar seus discos gratuitamente.

Texto e imagens reproduzidos do site: bbc com

Zero Freitas: brasileiro é o maior colecionador de vinil do mundo




Publicação compartilhada do site MEGA CURIOSO, de 23 de abril de 2023 

Zero Freitas: brasleiro é o maior colecionador de discos de vinil do mundo 

 Por Alejandro Sigfrido Mercado Filho

O vinil já foi considerado ultrapassado, mas hoje ostenta o posto de objeto de desejo. E ninguém melhor que o empresário brasileiro Zero Freitas para entender do assunto. Ele detém a maior coleção de discos de vinil do mundo, com mais de 8 milhões de unidades.

Apesar da magnitude de seus números, Freitas nem mesmo foi capaz de catalogar o material que possui. Segundo dados de uma reportagem do Agora São Paulo, o colecionador não tinha nem 5% de seus vinis registrados, o que indica que muitas pérolas podem estar escondidas em seu acervo.

Atualmente com 70 anos, Zero Freitas viu sua paixão por música surgir ainda na infância. À época, sua mãe já cuidava de uma singela coleção de LPs com cerca de 500 discos. Mas o pontapé dessa paixão pode ser creditado ao pai, que adquiriu um aparelho de som com vitrola junto com 200 discos.

Entre os vinis, o pai de Zero comprou álbuns de Ray Conniff, Ray Charles, Tony Bennett e Frank Sinatra, além de alguns discos de ópera, o que moldou o gosto do garoto, então com 7 anos. Já aos 10, com sua primeira mesada, deu um empurrão no que viria a ser sua coleção, destinando o dinheiro à aquisição de discos dos Beatles e do músico Roberto Carlos.

Não tardou para Zero tornar a pequena coleção da mãe em um robusto acervo de 3 mil discos, ainda durante o ensino médio. Quando se formou em composição musical na faculdade, próximo dos 30 anos, sua coleção já estava com quase 30 mil unidades. A vida o levou a assumir o negócio de transportes da família, mas a paixão pelo vinil nunca acabaria.

Muita gente não saberia sobre o brasileiro não fosse uma reportagem feita pelo The New York Times em 2014. Tudo surgiu por conta da aquisição milionária de Zero do acervo de Paul Mawhinney, um colecionador famoso nos Estados Unidos, responsável pela compra do estoque da renomada loja Colony Records, que ficava no coração de Manhattan.

No mesmo leilão, o brasileiro arrematou a coleção de Murray Gershenz, tornando-se o maior colecionador de discos de vinil do mundo naquele momento, com mais de 6 milhões de unidades. Ou, nas palavras do próprio Zero Freitas, o maior conhecido pelo menos, já que "deve ter um cara com uns 10 milhões, anônimo como eu era", como disse para a reportagem do Agora São Paulo.

A reportagem do jornal impulsionou o conhecimento global sobre Zero Freitas, permitindo que se descobrisse seu olhar para projetos públicos. Ele faz doações para alunos de escolas públicas montarem discotecas nas bibliotecas das instituições. Também mantém sua coleção aberta a pesquisadores. Interessou? É só entrar em contato pelos e-mails zero@armazemdaluz.com ou acervo@armazemdaluz.com.

Em seu acervo, Zero Freitas possui muitos clássicos, como discos raros da Ópera de São Francisco presenteados por Terence McEwan; Louco por Você, disco de estreia do rei Roberto Carlos, autografado; Revolution of the Mind, de James Brown, também autografado, além de notáveis clássicos nacionais, como Emilinha Borba, Dalva de Oliveira e Silvio Caldas.

Segundo Zero Freitas, só de Gal Costa, Caetano Veloso e Gilberto Gil ele afirma possuir 100 unidades de cada álbum dos artistas. Seu acervo de música cubana é o maior do mundo. Ao todo, são mais de 100 mil discos.

O colecionador é realmente um apaixonado por música, tanto que doou para o ARChive of Contemporary Music, uma biblioteca sem fins lucrativos localizada em Nova York, mais de 10 mil discos brasileiros, ganhando um acervo no local com seu nome.

Texto e imagens reproduzidos do site: megacurioso com br

sexta-feira, 21 de abril de 2023

1968 - Juca Chaves - Presidente Bossa Nova

REGISTRO notícia de: 26/03/2023 > Juca Chaves (1938 - 2023)

Crédito da foto: Reprodução/Facebook Juca Chaves

REGISTRO de notícia publicada em 26/03/2023

Publicação compartilhada do site CNN BRASIL, de 26 de março de 2023

Morre aos 84 anos o compositor, músico e humorista Juca Chaves

Artista, um dos únicos músicos que cultivavam o estilo modinha, será cremado no cemitério Parque Bosque da Paz, em Salvador

Da CNN

O compositor, músico e humorista Juca Chaves morreu na noite desse sábado (25), aos 84 anos.

O artista, que estava no Hospital São Rafael, em Salvador, será cremado no cemitério Parque Bosque da Paz. Segundo o hospital, ele teve complicações respiratórias.

“O Hospital São Rafael lamenta a morte do paciente Juca Chaves na noite deste sábado (25) devido a complicações de problemas respiratórios e se solidariza com a família e amigos por essa irreparável perda”, diz a nota da instituição.

Nascido em 1938, Juca Chaves, originalmente Jurandyr Czaczkes Chaves, é carioca, mas morava na capital baiana. Com formação erudita, ele iniciou a carreira na música no final da década de 1950. O artista é responsável pela música “Presidente bossa-nova”, que fazia referência ao presidente Juscelino Kubitschek. Do célebre compositor Vinicius de Moraes, ele recebeu o apelido de “Menestrel Maldito”, expressão que virou o título de um de seus trabalhos: “O Menestrel do Brasil”.

Juca Chaves é um dos grandes representantes do estilo modinha. Crítico da ditadura militar, ele fez vários shows no período do regime, com a marca do humor e das modinhas, e chegou a exilar-se em Paris por dez anos durante o período político. O auge de sua carreira foi nas décadas de 1960, 1970 e 1980, quando lançou dezenas de discos.

Ele deixa a esposa, Yara Chaves, e duas filhas, Maria Moreno e Maria Clara, com quem vivia na região de Itapuã, em Salvador.

A morte do artista foi lamentada pelo prefeito de Salvador, Bruno Reis, que em suas redes sociais disse: “Perdemos um artista completo, que misturava música e humor de uma forma ácida e divertida. Amou Salvador, da mesma maneira que cativou a gente com seu jeito único”.

Jerônimo Rodrigues, governador da Bahia, também se manifestou, elogiando o “humor sempre sofisticado e tão fiel ao retratar o Brasil”. “Juca era carioca, cantor e compositor, humorista e “baiano” por escolha”.

O ex-governador do Paraná Álvaro Dias declarou que Chaves “era dono de um humor inteligente e irreverente”. “Rimos muito com ele”, publicou.

O São Paulo Futebol Clube, time pelo qual Chaves torcia, homenageou-o em seus perfis: “Além de importante figura artística nacional, Juca era torcedor do Mais Querido, e foi autor da música “Marchinha do São Paulo”, em homenagem ao clube do coração”.

*Publicado por Salma Freua, com informações de Agência Câmara

Texto e imagem reeproduzidos do site: cnnbrasil com br

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Artigo: 'Música, música, música', por Marcos Melo

Foto: Ilustração/Internet

Publicação compartilhada do site RADAR SERGIPE, de 5 de janeiro de 2023

Artigo: Música, música, música
Por Marcos Melo*

Costumo dizer que minha geração foi musicalmente privilegiada. Na adolescência, nos anos 1950, fomos de rock’n roll, com Bill Haley e seus Cometas, Elvis, Litle Richard, Neil Sedaka, Paul Anka, Pat Boone, Sérgio Murilo, Cely Campelo, Carlos Gonzaga e outros mais.

Precisamente, às 18:05 hs, sintonizávamos a Rádio Mayrink Veiga para ouvirmos “Hoje é Dia de Rock”, programa idealizado e produzido por Jair de Taumaturgo, sob a locução de Isaac Zaltman, que apresentava as últimas gravações e novidades do mundo do rock. Foi ouvindo esse programa, num rádio SEMP a todo volume, que três jovens propriaenses criaram “Os Diabos Louros do Rock”, trio de muito sucesso na cidade. Certamente, a dupla Roberto e Erasmo Carlos, futuros ídolos da Jovem Guarda, também o ouvia.

A década de 1960 começou com o estouro mundial dos reis do iê, iê, iê. Sim, eles mesmos, os Beatles, com dezenas de canções cada uma melhor do que a outra. “A Hard Day’s Night” deu o tom e desencadeou uma revolução na música pop iniciada em 1962 e concluída em 1970 com a dissolução do quarteto, que até hoje reverbera nos quatro cantos do planeta.

Por aqui, basta lembrar os inúmeros conjuntos e bandas criados na esteira do “Fabulous Four”, com destaque para “Renato e Seus Blue Caps” que, por mais de 50 anos, fez milhares de shows e animou milhares de bailes tendo por carro-chefe “Menina Linda”, a versão feita por Renato Barros de “I Should Have Know Better”, mega sucesso dos Beatles. Os Blue Caps até 2019 estavam ativos. Com a morte do líder em 2020, não se sabe se o conjunto continuará na estrada.

Musicalmente pródiga e contestadora nos costumes e na política, a década de 1960, a partir da gravação de “Chega de Saudade”, por João Gilberto, em 1958, viu surgir a bossa nova que projetou mundialmente a música popular brasileira, sobretudo depois do célebre concerto do Carnegie Hall, em Nova York, no dia 21 de novembro de 1962, portanto há exatos 60 anos; e, em seguida, com a gravação dos LPs Getz/Gilberto, em 1964, que lançou Astrud Gilberto interpretando Garota de Ipanema em inglês; e Francis Albert Sinatra & Antônio Carlos Jobim, em 1966. A esplêndida música de Jobim ganhou o mundo e João Gilberto tornou-se um cantor/instrumentista cult.

Por sua vez, o rock brasileiro ganhou dimensão nacional alicerçado no extraordinário caudal de expressivas composições da dupla Roberto/Erasmo Carlos. Músicas icônicas a exemplo de “Quero que vá tudo para o Inferno”, “Festa de Arromba”, “Detalhes” e “Gatinha Manhosa” bem definem a trilha sonora da Jovem Guarda, que tem algo de contestador, mas que enfeixa uma elevada dose de romantismo. No vácuo da dupla aparecem os Golden Boys, Jerry Adriani, Wanderléa, Nilton César, Evinha, Eduardo Araújo, Wanderley Cardoso e, last but not least, a dupla Leno e Lilian, ele falecido há poucos dias. Com o recente desaparecimento de Erasmo Carlos, só resta, dessa geração, o rei Roberto Carlos, que há mais de meio século flana no topo do sucesso embalado por canções marcantes.

A década de 1960 também foi a dos festivais, certames musicais que revelaram talentosos artistas que enriqueceriam enormemente a MPB: Chico Buarque (A Banda, Roda Viva), Caetano Veloso (Alegria, Alegria), Gilberto Gil (Domingo no Parque), Milton Nascimento (Travessia), Edu Lobo (Arrastão, Upa Neguinho), Ivan Lins (Madalena), Paulinho da Viola (Sinal Fechado), Geraldo Vandré (Disparada, Caminhando/Para não Dizer que não Falei de Flores), Taiguara (Hoje), Gonzaguinha (O Trem) e outros. Os anos 1960 também revelaram cantoras excepcionais como Elis Regina, Nara Leão, Maria Betânia, Clara Nunes, Rita Lee, Nana Caymmi e a afinadíssima Gal Costa, também há poucos dias falecida.

Com tanta música boa, todos nós então cantávamos, porque quem canta seus males espanta e para amenizar a travessia daqueles dias sombrios tutelados pelo regime militar. Pois bem, aos 19 anos, em 1964, aprovado em concurso público, fui trabalhar no Banco Comércio e Indústria de Minas Gerais onde tive a satisfação de conhecer Murilo de Mattos Dantas, acadêmico de Direito e responsável pelo setor de cadastro. Guapo bem nascido, cantor afinado, percussionista criativo, Murilo tinha todas as letras de músicas que se possa imaginar grafadas em vários cadernos bem cuidados. Acho mesmo que ele ainda os tem, pois, agora como fundador da Bandáguia, prossegue em sua melódica caminhada levando alegria aos quatro cantos da cidade, sobretudo aos residentes no Asilo Rio Branco.

Esses cadernos eram a bíblia das serenatas que fazíamos. Sim, eram serestas realizadas com esmero, planejada no repertório e nos locais onde íamos cantar. Embarcados no DKW Vemag, de Murilo – o próprio, Otávio (Tatau), Bosco e eu – seguíamos para a proximidade das casas onde residiam as garotas alvo de nossa cantoria, especialmente das colegas de banco Hortência, Vera e Isaura. O repertório constava de músicas da Jovem Guarda – Gatinha Manhosa, A Volta, Feche os Olhos – de boleros: Perfídia, La Barca, Dos Almas; e de sambas-canção: Nem Eu, A Noite do Meu Bem. Havia uma música, acho que era “Boa Noite”, que tinha uns versos que diziam: “O peixe quer o rio/O rio quer o mar/E eu quero você todinha para amar.” Essa canção, em ritmo de balada romântica, era especialidade de Tatau, para mim, o único beatnik do pedaço.

Com o tempo fomos ganhando prestigio de bons seresteiros. Tanto que colegas nossos pediam que fôssemos cantar na porta de suas namoradas. Deu até casamento. Este é caso de Jugurta Lima Franco, tesoureiro do banco, que namorava Margarida Diniz, estudante de Medicina. Casaram-se, constituíram uma bela família e foram felizes para sempre.

Bons tempos aqueles em que se podia cantar altas horas da noite nas ruas de Aracaju! “Estou guardando o que há de bom em mim...” Lembram?

* Marcos Melo e professor emérito da UFS e membro da ASL.

Texto e imagem reproduzidos do site: radarsergipe.com.br